Capela da Senhora da Ajuda

Picture of Francisco Carneiro Fernandes
Francisco Carneiro Fernandes

Localiza-se na MEADELA, numa pequena elevação, com adro e curta alameda, a Nascente da Casa do Ameal e de um Cruzeiro próximo da devoluta Capela da Senhora da Penha.

A Ermida de Santa Maria da Ajuda, de origem medieval, foi edificada num sítio ermo (hoje, área periurbana de Viana do Castelo). «Tinha confraria e grande afluência de romeiros no século XVI» (ABREU: Vd. Bibl.).

 O templo actual, com remodelações nos séculos XVIII, XIX e XX, é, no essencial, da reconstrução seiscentista (2.ª metade do século XVII), de traça Maneirista. Subsiste em obras de cantaria: portal de arco pleno, com dupla moldura de bocel; arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras de ordem Jónica; lavabo da Sacristia; assim como nos silhares de azulejos e na talha do retábulo-mor, com pinturas devocionais sobre madeira. 

De planta longitudinal, com frontispício orientado a W., apresenta «fachadas em alvenaria sem reboco, com contrafortes simétricos na frontaria e na separação entre a nave e capela-mor» (SIPA). Alpendre de colunelos jónicos assentes num muro de cantaria com banco corrido no interior, três dos quais (dois facetados e embebidos na frontaria) apresentam capitéis muito mais antigos do que a época seiscentista, com relevos vegetalistas e antropomórficos.

Acerca da remota Ermida de Santa Maria da Ajuda, escreveu o investigador A. de ALMEIDA FERNANDES (Cadernos Vianenses, Tomo VII, 1983), a propósito da designação posterior de Senhora da Ajuda: «Este hagiotopónimo deve-se ao templo desta invocação, a qual nele não podia aí existir se a edificação foi anterior à aplicação das invocações marianas – ou seja: se anterior ao séc. XVI, foi simplesmente Santa Maria.

E, realmente, mesmo que não houvesse o mínimo vestígio de antiguidade no templo (tal como o não há no de S. Vicente, acabado de tratar e perto deste), tínhamos disso a prova documental: 1540 “bouça de Santa Maria da Ajuda” [Epílogo da Igreja da Meadela, fls. 15 v, 26 e v e 332], expressão que mostra bem como se estava transitando então (teria de ser, pela época, após o concílio de Trento) da primitiva Santa Maria para a actual Nossa Senhora da Ajuda, invocação já fixada do séc. XVII para o XVIII (1743 “devesa de Nossa Senhora da Ajuda” [Cit. Epílogo, fl. 332; Tombo da Meadela, fl. 62 v.].

Já na primeira metade do séc. XVIII se dizia ser templo de “fundação imemorial”, ou “fundada de tempo imemorial”. No entanto, ainda que essa nota se refira ao edifício tal como ainda o temos aí, esse já não era o primitivo – que foi desfeito sem a menor dúvida muito tempo antes, como atestam dois capitéis de colunas no alpendre, para as quais foram aproveitados e me parecem ser visigóticos.» (Nota: Os sublinhados a negrito são de nossa autoria)

A historiadora Glória SOLÉ (Vd. Bibl.) escreveu o texto que se transcreve, sobre a Capela de Nossa Senhora da Ajuda: «Outro templo existente na freguesia é o de Nossa Senhora da Ajuda, fundado não se sabe quando e cujo primeiro registo aparece na tombação de 1743 na forma de “antiga” e “erigida há mais de quarenta anos”. Foi instituída por devotos e pessoas leigas. Fica situado perto da actual cerâmica “Campos” que faz a tradicional Louça de Viana. No tombo de 1743 é descrita da seguinte maneira:

“Tinha no meio seu arco de pedra lavrada e pintado, capela/môr com fresta para o Sul, retábulo doirado em que estava a/Senhora com seu manto e o altar em que se celebrava bem/posta. Sacristia que botava para o norte com fresta para o/nascente e porta para a capela Môr. Tinha uma lâmpada de/bronze, um sino pequeno e fábrica própria”. [Tombo, 1743, fls. 37-39]

     Por volta de 1693 alguns devotos da Meadela erigiram uma confraria leiga com a invocação daquela Senhora, para lhe fazerem festa no dia 8 de Setembro. O abade escolhia os ermitões da capela, tendo estes a chave, a coroa de prata da Senhora, o resplendor do Menino e outras peças da fábrica. Os ermitões usufruíam das casas com um terreno à volta; hortas e árvores de fruto pertença da capela.» [IDEM, Ibidem.]

     *  *   *

Revisitemos a Capela da Senhora da Ajuda, ao encontro dos Azulejos, da Talha e de outros elementos com valor histórico e artístico: seiscentistas, em estilo Maneirismo; setecentistas, em estilo Rococó (FERNANDES: Vd. Bibl.).

     No INTERIOR, a data de 1670 inscrita no arco triunfal. Na Nave e Capela-Mor, formando silhares, azulejos de padrões diversos, policromos, dos finais do século XVII, reaplicados de forma descontínua. No lado do Evangelho, púlpito Rococó em cantaria de granito: tribuna com um coração estilizado e composição de concheados retorcidos; mísula com volutas de belo entalhe.

O retábulo da Capela-Mor, de talha dourada, apresenta estrutura Maneirista do século XVII. Subsistem quatro pinturas sobre tábuas, nos tramos laterais: Santa Ana, S. Joaquim; S. Francisco e Santa Catarina de Sena. Este retábulo foi remodelado na segunda metade do século XVIII e no século XIX, no eixo central, descaracterizando a estrutura original: moldura, cartela e frontão recortado em estilo Rococó sobreposto ao ático original; sacrário e trono, Neoclássicos.

No remate do frontão curvo, ornatos foliados e enrolamentos Maneiristas no extradorso do arco. Colunas de capitel coríntico, com “brutescos” no terço inferior e caneluras no resto do fuste, assentes em pedestais decorados com querubins (cabeças volantes de anjos) em cartela perfurada, de enrolamentos e ferroneries ítalo-flamengos. Esta gramática decorativa e alegórica do Maneirismo seiscentista (estilo que antecede o Primeiro Barroco) também se contempla no lavabo da Sacristia, com primorosa obra de cantaria.

Bibliografia:

ABREU, Alberto Antunes de: O Culto de Nossa Senhora em Viana do Castelo, Instituto Católico, Viana do Castelo, Março 2006 (Separata do Tomo 12 da Revista Memória), pp. 45 e 61.

ALMEIDA FERNANDES, Armando de: “Toponímia Vianense”, Cadernos Vianenses, Tomo VII, Novembro 1983, (185-233), pp. 214-215; Meadela Histórica, ed. Paróquia de Santa Cristina da Meadela, V. do Castelo, 1994 (Separata de “Ecos da Meadela”, 1977). 

FERNANDES, Francisco José Carneiro: Azulejo – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Junho 2017; Talha – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Janeiro 2019.

SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico: União das freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela: Capela da Senhora da Ajuda (Acedido: 15-VII-2023).

SOLÉ, Maria Glória Parra Santos: Meadela, Comunidade Rural do Alto Minho: Sociedade e Demografia (1593-1850). Ed. Núcleo de Estudos de População e Sociedade / Instituto de Ciências Sociais / Universidade do Minho / Guimarães, 2001 (386 págs.), a pp. 57-58.

N.R.: O Autor não segue o novo acordo ortográfico

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.