Capela da Senhora do Olival

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Na freguesia de PERRE, cujo Orago é São Miguel, subsistem capelas com valor histórico e artístico, dignas de registo, tais como: Capela de São Francisco Xavier, setecentista em estilo Barroco, que preserva talha joanina e painéis de azulejos historiados, merecedores de contemplação (a publicar num próximo número); Capela de Nossa Senhora das Dores, antiga Igreja Matriz ou Paroquial de Perre, com elementos da época quinhentista no portal de arcos apontados – o arco exterior de encordoamento náutico – e colunelos de feição Manuelina, em cantaria de granito; Cruzeiro e Capela do Senhor dos Passos; Capela de Nossa Senhora do Resgate, no lugar de Vila Meã, anexa à Casa do Crasto; Capela de Nossa Senhora da Conceição, templo com alpendre, edificado no ano de 1632, com um retábulo de talha antiga do Maneirismo seiscentista, hoje apenas as colunas e parte do entablamento de uma estrutura semelhante à que se preserva na Ermida da Senhora do Olival.

A Capela de Nossa Senhora do Olival localiza-se no lugar de Vila Meã. Mergulha raízes, pelo menos, nos finais do século XVI, isto é, há mais de 400 anos!…

Com efeito, segundo o historiador Alberto Antunes de ABREU (Vd. Bibl.), «[…] a partir da paróquia (pagus da diusio Theodorici) de Ouinia teriam emergido pequenas células cristãs em torno deste igrejário duplo: Santa Maria de Vinha [Areosa] e S. Salvador do Adro [Viana nuclear, pré nacional], Santa Maria do Amonde e S. Miguel de Murteda, Santa Maria de (Riba de) Âncora e S. Salvador de Gondar, Santa Maria do Olival ( Ulvar, ainda no século XVIII objecto de culto muito intenso na data mariana de 25 de Março) e S. Miguel de Perre, Santa Maria (depois mudado para S. Martinho) de Vila Mou e S. Salvador da Torre. Mas sempre Santa Maria como orago: de cinco em vinte paróquias, ao tempo da reforma paroquial gregoriana (século XI-XII). Entretanto Carreço adoptava como orago Nossa Senhora da Graça, mas também Vila Mou perdia a invocação mariana que tivera. […]

As invocações marianas são um traço típico de devoção mariana da deuotio moderna e da piedade barroca. Até então, as denominações individualizadoras eram, para além de passos da vida da Virgem (Expectação, Dormição), quase exclusivamente topográficas: Santa Maria do Lago, da Oliveira, de Braga, do Olival (Ulvar) em Perre, de Vinha (<Ouinia) […]» (NOTA: Os sublinhados são de nossa autoria)

     * * * 

Capela implantada num adro rodeado por oliveiras e protegido por muro, espaço outrora ermo, onde se construiu na segunda metade do século XX, pelo Nascente, o campo de jogos da Associação Desportiva e Cultural de Perre.

Templo com as paredes rebocadas e caiadas. Fachada principal em empena truncada por sineira de uma ventana. O alçado lateral direito é rasgado por porta antiga, de arco alongado com moldura de aresta chanfrada, em cantaria.

No INTERIOR, retábulo em talha dourada e policromada, seiscentista, Estilo Maneirismo (que precede o “Primeiro Barroco” designado na Talha Religiosa por “Estilo Nacional”). No eixo, pintura sobre tábuas: A Virgem Maria a receber flores de São José. Nas peanhas estavam expostas as imagens de Nossa Senhora do Olival (lado do Evangelho) e Nossa Senhora com o Menino.

Na parede do lado da Epístola, num arcossólio sobrepujado pelo brasão dos BEZERRA, arca tumular com a seguinte inscrição (tradução): “Sepultura de Pedro Nunes Bezerra, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, Comendador de Santa Maria da Torredeita do Bispado de Viseu. Faleceu a 24 de Agosto de 1600”. NOTA: Torredeita ou Torre Deita, antiga freguesia do concelho de Viseu. (FERNANDES: Vd. Bibl.)

Família BEZERRA: Trata-se de família antiga de Viana da Foz do Lima, que passou para o Brasil na época quinhentista, estabelecendo-se em Pernambuco (Recife…), com ramificações no Nordeste e no Rio de Janeiro, desempenhando cargos importantes na vida política e administrativa. «Pedro Nunes Bezerra adquiriu, por compra, o Prazo de Perre, quinta e Torre de São Gil de Perre, onde instituiu um Morgado, unindo-lhe a Capela do S. Crucifixo e do Senhor dos Mareantes, na Matriz de Viana, por escritura de 11.1594. Foi confirmado, este vínculo, por Provisão Régia de 20.07.1595. Comendador da Ordem de Cristo. Fidalgo da Casa Real. Comendador de Santa Maria da Torre, Bispado de Vizeu.» (geneall.net/pt/forum/159529/ família-bezerra-btzur-em-hebraico/ Sandra Rosa: 27/07/2011). 

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Bibliografia:

ABREU, Alberto Antunes de: O Culto de Nossa Senhora em Viana do Castelo, Instituto Católico, Viana do Castelo, Março 2006 (Separata do Tomo 12 da Revista Memória), pp. 45-46.

FERNANDES, Francisco José Carneiro: Talha – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Janeiro 2019, a pp. 159-161; Heráldica – Roteiro em Viana do Castelo: Centro Histórico, Envolvente Urbana, Darque, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Julho 2021, pp. 74-75.

Francisco Carneiro Fernandes

N.R.: O Autor não segue o novo acordo ortográfico

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