Capela do Senhor do Calvário

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Também conhecida por Capela de Nossa Senhora da Conceição da Rocha. Situa-se na freguesia de Monserrate, de encontro à sacristia do “Santuário da Senhora da Agonia”, com a qual comunica, pelo Nascente, através da antiga Casa do Capelão (hoje, ACISJF).

Um dos quatro templos edificados num sítio ermo, durante os séculos XVI e XVII: afloramento granítico, no prolongamento do Monte de Santa Luzia, hoje urbanizado, mas comprovado pela “Rua do Penedo” que lhe fica próxima. 

ERMIDAS, a saber: Capela de São Roque, “advogado” da peste e de outras doenças graves, que teve alpendre virado ao Poente, desde os finais do século XVI; Capela do Bom Jesus (do Santo Sepulcro do Calvário), erigida em 1674 pelo Rev.º João Jácome do Lago, tomando depois as invocações de Bom Jesus da Via Sacra, Nossa Senhora da Soledade e, desde 1744, Nossa Senhora da Agonia, após obras importantes de reedificação da Capela, ampliada e decorada em Estilo Rococó na segunda metade do século XVIII (templo e altares benzidos aos 13-VIII-1756); Capela do Senhor do Calvário, seiscentista, tema da presente crónica; e a coroar o antigo morro, Capela de Nossa Senhora da Conceição (do Monte), ermida alpendrada, dos finais do século XVI, com alguns elementos artísticos do Maneirismo.

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     A Capela do Senhor do Calvário deverá remontar à 2.ª metade do século XVII, então como Oratório do Senhor da Via Sacra. O seu alpendre (vedado em 1831 por gradeamento de ferro), o fontanário próximo (com lavores Neoclássicos ou Românticos, e epígrafe hoje ilegível) e a sombra fresca dos plátanos constituíram, noutros tempos, tema inspirador a pintores e aguarelistas.

     Esta ermida foi administrada pela “Irmandade do Senhor do Calvário”, integrando-se, em 1824, por falecimento do último dos seus irmãos, na “Real Irmandade de N. ª Sr.ª da Agonia”. Por deliberação da Mesa desta confraria, resolveu-se, aos 15-VIII-1829, colocar a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha na capela-oratório do Senhor Jesus do Calvário. 

     Com efeito, o trabalho de pesquisa e de síntese de José Rosa de ARAÚJO trouxe à luz a história do Santuário da Senhora da Agonia e a génese, quanto a autores e cronologia, das principais obras de arte expostas, bem como referências às capelas ou ermidas envolventes (Memória da Capela de Nossa Senhora da Agonia, segundo o “Arquivo da Irmandade de N. ª Sr.ª da Agonia). Na ob. cit., p. 52, ARAÚJO transcreve o documento de anexação:

     «Il.mo Sr. Prior Provedor

      Diz João da Silva Pereira desta Villa, que elle supp.e tem admenistrado como Thesoureiro os piquenos fundos que ficarão da Irmandade, em razão de ter falecido todos os irmãos della, e não ter outro senhorio, e porque o Supp.e se acha inteiramente emposebelitado de continuar com esta devoção, quer por isso entregar os ditos fundos, e Fábrica, à Irmandade da mesma Senhora d’Agonia, com a obrigação da Conservação e Veneração da dita Capela, e de mandar cantar huma Missa todos os anos de três padres e Sermão, no dia três de Maio de cada hum anno, visto aquela Irmandade não existir e por isso.

     P. a VS. seja servido mandar se lhe de Caixa, feita que seja a dita entrega E. R. M.e».

     Acresce o contributo do historiador Luiz de Figueiredo da GUERRA (Vd., p. ex., in “A Aurora do Lima”, n.º de 18-VIII-1928): Alusão à remota Via Sacra, de 1670, superentendida pela Ordem dos Franciscanos Capuchos, distribuindo-se as cruzes desde o adro do Convento de Santo António, continuando pela R. Emídio Navarro (antiga Rua da Amargura), Carreira, Santiago, Campo da Penha (mais tarde, Jardim D. Fernando, hoje Praça General Barbosa) e Campo de N. ª Sr.ª da Agonia (ao tempo, seria “do Bom Jesus da Via Sacra”), até junto da Ermida do Senhor do Calvário.

     Segundo este memorialista, «em 1737 e 38 substituíram as pequenas cruzes por outras, de altas hastes e largos braços, talhadas em rijo granito; quatro delas estão ainda no adro superior da igreja da Senhora da Agonia, em frente da fonte e a da Avenida da Carreira, chamada do Senhor do Bom Sucesso, foi recolhida em 1917 no cemitério de S. Francisco».

     * * *

     No INTERIOR admira-se um retábulo seiscentista, de planta em perspetiva côncava, com três pinturas sobre tábuas alusivas à Cena do Calvário: dois ladrões crucificados e, no painel central, Jesus Crucificado (imagem em alto-relevo) e a representação pictórica da Virgem Santíssima Sua Mãe e de São João Evangelista. Embasamento de um registo, sem douramento. O tríptico tem emolduramento Barroco de talha dourada: uma coluna e uma pilastra, de cada lado, de madeira entalhada, dourada e policromada, com ornatos florais, meninos e fénix, e folhagens de acantos distendidos que se prolongam no coroamento, onde sobressai uma cartela de volutas e motivos florais contendo a coroa de espinhos e as cinco Chagas de Cristo.

     Na parede do lado da Epístola, peanha seiscentista, de madeira primorosamente entalhada, dourada e policromada, com querubins policromos e em carnação, e mísulas de enrolamentos flamengos tardo-Maneiristas, onde está exposta a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha.

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Bibliografia:

ARAÚJO, José Rosa de: Memória da Capela de Nossa Senhora da Agonia, Viana do Castelo, ed. Confraria N. ª Sr.ª Agonia, 1963.

FERNANDES, Francisco José Carneiro: “Capelas de Viana”, Cadernos Vianenses, tomo 6, Dezembro 1981; Viana Monumental e Artística, GDCT dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, 1.º e 2ª ed. 1990; Tesouros de Viana – Roteiro Monumental e Artístico, GDCT ENVC, 1999; Talha – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Janeiro 2019.

GUERRA, Luiz de Figueiredo da: “A Via Sacra”, in A Aurora do Lima, n.º de 18-VIII-1928.

N.R.: O Autor não segue o novo acordo ortográfico

 

Francisco Carneiro

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