Moura e Sá disse na curiosa obra: ” Vida Literatura” (vol. Póstumo) uma grande verdade, que poucos se aventuram a escrever em letra de forma:
“Quando dizemos: João é bom, queremos dizer que antes ele nos afirmou a sua admiração pelas nossas qualidades; quando dizemos: João é estúpido queremos realmente significar que ele antes não nos tirou o chapéu com amabilidade suficiente. Exatamente da mesma maneira que, quando dizemos: este poema é mau, queremos muitas vezes afirmar que o autor pensa em matéria política de forma diferente da nossa.”
Mutatis mutandis: quando dizemos: este escritor é mau, é porque não tem afinidade religiosa ou política connosco.
São poucos os que analisam uma obra em total imparcialidade.
Em regra, a fama está quase sempre dependente do talento, da capelinha política, da máquina comercial e da época em que se vive (o gosto varia consoante as décadas.)
O vulgo, que não sabe avaliar nem pensar, é sempre levado, como águas de um rio, pela mass-media; bate palmas e aplaude o que não entende, mas dizem-lhe ser bom.
Basta que em unicíssimo lhe digam: é excelente, para que as vendas subam astronomicamente.
Todos sabemos que os candidatos ao Nobel são propostos pelos governos, que arrendam páginas na imprensa internacional e tempo de antena na Rádio e Tv.
Há firmas especializadas nesse serviço, em Estocolmo (Jerry Bergstroem AS, é uma delas). Veja-se ” O Comércio do Porto”, de 6/09/99.
Suspeitava Agustina Bessa Luís, quando participou – membro do júri – no Prémio Internacional de Literatura da União Latina, que alguns membros do júri mal conheciam obras de alguns candidatos (C.P.- 23/11/95).
Pelo que se disse, pode-se afirmar que o escritor é bom ou mau conforme a crítica vem da direita ou da esquerda.
Sem mérito, ninguém alcança o estrelato, mas desenganem-se os ingênuos que se pode singrar sem o “jeitinho”
É costume dizer-se: “Há sempre uma grande Mulher por trás de um grande Homem”, e é verdade; mas sem máquina comercial ou política, bem montada, dificilmente nasce um grande Homem.