Comunicação social

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Os órgãos de comunicação social são, no espaço global, os veículos que levam ao conhecimento dos cidadãos tudo quanto se passa no mundo e é graças a eles, ou seja, aos jornalistas que lhes dão corpo, que nos inteiramos, muitas vezes em directo, do que está a acontecer em longínquas paragens do nosso planeta. Trata-se de um trabalho árduo e perigoso, em que arriscam as suas vidas para nos darem uma informação sempre actualizada. Merecem, pois, o nosso respeito, admiração e, sobretudo, gratidão.

Contudo, e referindo-me expressamente ao audiovisual, vemos que por parte das direcções de informação nem sempre existe uma sensibilidade para o equilíbrio, quanto à difusão das notícias, deixando-se de falar, repentinamente, de temas importantes e actuais que mantinham a atenção dos espectadores, para logo se reagir com todos os recursos perante um novo acontecimento, entretanto surgido.

Como consumidor normal das notícias televisivas, não me parece adequado passar a ignorar assuntos que são importantes, que se mantêm actuais e que captam as atenções. É o caso da guerra na Ucrânia, que ocupou durante meses e meses o horário nobre das televisões mais dedicadas à informação, com grandes audiências, e praticamente desapareceu dos écrans durante largo período, por causa da guerra entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza, que tomou conta do espaço informativo. Mas tendo surgido uma crise no governo, em circunstâncias inesperadas, acrescendo um voyerismo, que eu diria doentio, sobre o que poderia acontecer a um determinado ministro, as notícias sobre a guerra no Médio Oriente sofreram uma redução acentuada durante cerca de uma semana, passando-se somente a falar da crise no país. Não que este assunto não seja importante, até porque tem a ver com as nossas vidas, mas penso que poderia ter havido um certo equilíbrio em termos de interesse noticioso para estes três temas candentes, sem se apagarem uns aos outros. 

Não parece que seja uma boa política de informação pública dar menos atenção a matérias tão importantes como são os casos da guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza, porque podem evoluir para um confronto global. Não interessa, de modo algum, destacar as frequentes promessas de amor eterno ao sr. Zelensky com que a presidente da Comissão Europeia e outros responsáveis políticos europeus alimentam o seu ego, só faltando andarem com ele ao colo, mas sim acompanhar a evolução e a realidade das operações militares, completadas pelos comentários esclarecidos de oficiais generais das nossas Forças Armadas e de outras personalidades que dominam esta temática.

Penso que estes eventos deveriam manter-se nas preocupações informativas das TV´s, e não perderem tempo com palpites, esmiuçando até à exaustão a crise política do país, sem que isso conduza a resultados com interesse. É que o Sr. Presidente da República teve o cuidado de informar a data das eleições legislativas, marcadas para Março do próximo ano, assim como anunciou o período de vigência deste governo, que passará a ser governo de gestão. Portanto, não se vê qualquer ganho noticioso em explorar muito mais este assunto, a não ser encher o espaço informativo com minudências e palpites que não fazem doutrina. E quanto ao papel da Justiça, há que deixá-la seguir o seu caminho, sem pressões nem atropelos.  

Neste contexto, penso que é muito mais importante as TV’s manterem o acompanhamento dos conflitos armados que nos cercam, do que mandarem jornalistas para as portas dos prédios onde residem governantes, ou dos ministérios onde trabalham, porque, salvo raríssimas excepções, não nos trazem nada com substância. Penso mesmo que este tipo de reportagens em directo, normalmente cheias de nada, não passam de uma violência sobre jornalistas a darem ainda os primeiros passos na profissão. 

Costuma referir-se que uma notícia tem um período de validade de vinte e quatro horas, mas, nos casos referidos, tal validade é bem diferente, está na ordem do dia e merece o acompanhamento contínuo nos telejornais.

Para finalizar, desejaria deixar expressa uma questão que tem a ver com a ética dos procedimentos jornalísticos. Todos os espectadores assistem à forma como, nas televisões, alguns jornalistas tratam os convidados quando são entrevistados ou expressam as suas opiniões como comentadores. E aquilo que me causa estranheza é ver um jornalista, jovem ou menos jovem, tratar uma personalidade, que poderia ser seu pai/mãe ou avô/avó, apenas pelo nome próprio, sabendo que está perante um oficial general, um ministro, um embaixador, um professor universitário ou até um presidente da República! Será que nos cursos de Comunicação Social, que conferem o grau de licenciatura e em que a ética deve assumir importância fundamental, incutem este tipo de interacção arrogante e prepotente? Ou será que lhes é injectado um sentimento de superioridade? No mínimo, deveriam preceder os nomes do termo senhor ou senhora, já que têm tanta relutância em referir o título. Claro que nem todos são assim e mal seria se o fossem.

Tratar os convidados pelos títulos académicos ou militares é uma atitude respeitosa como, aliás, há convidados cuja educação os leva a tratar os jornalistas por sr. doutor ou senhora doutora, não deixando de ser quem são e mostrando serem pessoas que sabem estar. Por certo que muitas das personalidades entrevistadas não foram colegas desses jornalistas nas universidades e, de certeza, que não existe grau de familiaridade ou intimidade que lhes permita este à vontade, onde “é tudo nosso”. Excluo, naturalmente, aqueles que foram colegas e que ficaram amigos para a vida.

Para finalizar, na data em que escrevo estas linhas verifico que a temática das guerras voltou a assumir um pouco mais de atenção televisiva, e que já era tempo de isso acontecer.

N.R. – O autor não segue o novo Acordo Ortográfico.

A. Lobo de Carvalho

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