Contributos para o desenvolvimento de Portugal (I)

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Gostaria de viver num Portugal mais desenvolvido, menos desigual, com menos pobreza. Desta vez vou cingir-me ao meu Alto Minho, uma região com um subdesenvolvimento acentuado e, como tal, terra de emigrantes. O Alto Minho tinha um PIB por habitante (rácio entre o PIB regional a preços correntes e a população residente) de cerca de 15 mil euros em 2017. Em Lisboa, o PIB por habitante rondava os 25 mil euros, enquanto a média nacional se situava nos 19 mil euros. Para vivermos numa região mais desenvolvida e, por conseguinte, mais rica, temos de criar mais riqueza. Portanto, temos muito trabalho pela frente. 

Vou contar mais um caso que se passou comigo há vários anos atrás. Por volta de 1992, o Prof. Daniel Bessa, antes ainda de ser Ministro da Economia, em conversa pessoal num dos vários almoços em que estivemos juntos, quando conversávamos sobre o desenvolvimento do Alto Minho e nomeadamente de Viana do Castelo, dizia-me algo do género “um jovem com habilitações acima da média, será sempre um problema, numa terra pouco desenvolvida”. Vindo de Lisboa, onde durante 5 anos fui assistente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a vida familiar impôs-me um regresso às minhas origens, ou seja, a Viana do Castelo. Fiquei, então, a meditar naquelas palavras sábias e o tempo encarregou-se de me demonstrar a sua veracidade. Transmiti esses saberes aos meus alunos do ensino superior e, recentemente, um deles escreveu nas redes sociais que há algum tempo alguém lhe disse que “pessoas com formação igual ou superior são incómodas para os menos formados, mas a competir pelo mesmo espaço”. Por experiência pessoal, confirmo a veracidade destas palavras.

Vem isto a propósito das recentes declarações do senhor Presidente da Camara de Viana do Castelo quando disse, e bem, na entrega das cartas de curso aos últimos diplomados do IPVC que “é muito importante para o nosso concelho e distrito que os diplomados deste Instituto fiquem cá”. Mas… e há sempre um mas… para que tal aconteça, é preciso criar condições para que esses jovens, com formação superior, se fixem em Viana do Castelo ou no Alto Minho. E como promover tais condições? Antes de mais, criar um Parque de Ciência e Tecnologia em Viana do Castelo ou algures no Alto Minho, em articulação com o IPVC (Instituto Politécnico de Viana do Castelo) e a AEVC (Associação Empresarial de Viana do Castelo).  Quase todas os distritos em Portugal têm um Parque de Ciência e Tecnologia. O Baixo Minho tem um desses parques nas Taipas, o AvePark articulado com a Universidade do Minho, o qual já visitei. E porquê nas Taipas? Dada a velha rivalidade entre Braga e Guimarães, nenhum município cedeu na localização do referido parque. 

Então, fica a meia distância entre os dois municípios!!! Esta foi a principal questão da localização. Tudo o que se possa dizer mais, é apenas acessório. Mas existe e isso é muito importante para a região e também para Portugal. “Como objeto central do AVEPARK, identifica-se o desenvolvimento e a promoção de um Parque de Ciência e Tecnologia, no qual se incluem as vertentes educacional, científica, tecnológica e empresarial, potenciadoras de um clima favorável à inovação de base tecnológica, tirando partido das sinergias e complementaridades entre as comunidades científico-tecnológica e empresarial”. No AvePark instalaram-se empresas, de entre outras, a Farfetch- empresa de comércio eletrónico com presença em vários países e empregadora de recursos humanos qualificados; A SMC Therapeutic Health Center Production, Lda.- empresa de produção de plantas medicinais, uma empresa de Prado que vai investir 30M€ no AvePark. O seu projeto de investimento prevê a criação, numa fase inicial, de mais de 150 postos de trabalho, dos quais 20 qualificados. O investimento em I&D (Investigação Cientifica & Desenvolvimento Tecnológico) visa desenvolver uma tecnologia inovadora que permita a produção em massa de biocompostos para efeitos medicinais e farmacêuticos. 

A esta lista junta-se ainda o “MACC, estrutura que albergará o supercomputador Deucalion, de nível peta escala, capaz de realizar 10 mil biliões de operações por segundo, com uma arquitetura na fronteira da tecnologia para utilização pela comunidade científica e empresarial. O projeto é promovido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), em conjunto com a Universidade do Minho, o qual faz parte do Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Interesse Estratégico, integrando-se na Rede Ibérica de Computação Avançada”.  E ainda o “Instituto de Excelência de Tecidos e Medicina Regenerativa (que reúne cerca de 160 cientistas e investigadores com formações diferenciadas, de entre os quais muitos doutorados,  oriundos de diferentes países, e que perspetiva a investigação e trabalho no desenvolvimento de novos materiais e produtos biodegradáveis e aplicações clínicas, nomeadamente ao nível da regeneração e substituição de diversos tecidos humanos)”; e também o “Instituto Cidade de Guimarães (CTR – Discoveries Centre), um novo instituto de investigação associado à Universidade do Minho, dedicado à Investigação e Desenvolvimento de Materiais Biomédicos Avançados e Engenharia de Tecidos Humanos, permitindo também atuar como uma plataforma de internacionalização da universidade e do Avepark, nesta área de I&D”.

O IPVC e a Camara Municipal de Viana do Castelo têm a tarefa de instalação de um Parque de Ciência e Tecnologia facilitada, já que não existe entre os vários municípios do Alto Minho igual rivalidade que, deixem-me dizer, embora não pareça, é salutar no Baixo Minho, onde exerço a minha atividade profissional há quase 30 anos. O futuro passa pela Ciência (criação de conhecimento) aliado à Tecnologia (aplicação do conhecimento gerado pela Ciência), para enriquecer a Economia. E, já agora, um possível futuro Parque de Ciência e Tecnologia, com empresas inovadoras lá dentro, bem como com o Instituto do Mar (que abordei em artigo anterior), ligados em articulação com o IPVC, e também com a AEVC (Associação Empresarial de Viana do Castelo), seriam contributos enormes para a fixação de jovens licenciados, mestrados e também serviria para atração de doutorados portugueses e de outras nacionalidades. Se queremos que os novos licenciados e mestrados do IPVC se fixem no Alto Minho temos, antes de tudo, de criar condições para que tal se torne possível. Existe uma “bazuca”. Ontem, já era tarde!!!. Afinal de que temos de nos queixar? Diria que apenas da nossa inércia.

Gilberto Santos

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