Permitam-me focar três aspectos que se relacionam, directa ou indirectamente, com a Romaria da Senhora d´Agonia.
Existiu, na primitiva, uma praça de touros, construída em madeira, que se situava no Campo do Castelo, onde agora se fazem as feiras semanais. Seguiu-se a estrutura que foi edificada em 1948, na Argaçosa, quase a fazer fronteira com as antigas Azenhas de D. Prior, fecundadas pelo sussurrante ribeiro da Papanata e a praia fluvial na serenidade bucólica do Lima, para agora ser demolida, a fim de dar lugar à Praça Viana.
Sou da época em que havia touradas e garraiadas na nossa acolhedora e luminosa cidade. A lei vigente permite, em todo o território nacional, que se pratique este espectáculo, que também é cultura. O gosto pessoal de quem dirige e as minorias não se devem sobrepor às maiorias, atento o nosso sistema político. Quer se simpatize, ou não, pela festa taurina, que envolve fortes motivações populares, havendo, até, um clube norteado na arte de tourear, a Municipalidade deveria ter-se inclinado pelo recurso ao referendo, acto verdadeiramente democrático, que viria a mostrar, então, o que, maioritariamente, através do voto viesse a ser decidido.
A imprensa local noticiou que no Tribunal competente deu entrada uma acção judicial de autoria da Protoiro, relacionada com a demolição da Praça de Toiros, tendo sido admitida. Esse instrumento jurídico pretende defender o património cultural, na vertente da tauromaquia, pedindo que sejam declaradas nulas as decisões tomadas pelo Município, apontando, em paralelo, alterações ilegais ao Plano de Pormenor do Parque da Cidade, na envolvência do Lote J. Este contencioso tenta ensombrar o projecto da construção da tão propalada Praça Viana, que pode vir a afectar a responsabilidade da actual maioria que governa o Órgão Executivo da Municipalidade.
Sentiu-se, no tempo, sem dúvida, a falta da tourada nos festejos da Senhora d´Agonia.
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O Límia Parque, que acabou, era uma sociedade por quotas, situado num dos topos do Jardim Público, junto à ponte Eiffel, que atravessa o rio Lima. Com o andar dos anos e o falecimento dos seus principais fundadores foi perdendo valor, sofrendo as mais variadas modificações, sempre para pior, que se poderá afirmar como tendo sido fatais. Era um local acolhedor e nobre de divertimentos citadinos, sendo a continuação festiva da Serenata, na Romaria d´Agonia, porque se transformava num recinto a mostrar uma beleza feérica irresistível e cativante.
Essa zona privilegiada da cidade ficou reduzida à concessão de um simples restaurante, sendo até afastados os dizeres do Límia Parque. Quem passa por aquela área da urbe nota o seu abandono e a precisar de obras de conservação. Os espaços ao ar livre tornaram-se num parque automóvel, sendo a relva verde e fresca de outros tempos convertido em chão poeirento e resíduos de lixo.
Perante conversações havidas e no seguimento do parecer favorável emitido em assembleia geral da sociedade, a Câmara Municipal, em Dezembro de 2011, comprou o que restava do antigo Límia Parque, tornando-se a responsável directa de todo aquele espaço. Com a anunciada implantação da Praça Viana nas proximidades, espera-se que o Município beneficie todo aquele recinto e faça a demolição de uma espécie de arrecadação, que foi construída, possivelmente, na vertente clandestina e que esteve, no início, encoberta por uma espécie de linhagem. É um mamarracho, a todos os títulos, sem qualquer estética, numa aberração urbanística, ferindo aquele cenário ambiental.
O “Caramuru” era o apelido dado pelos índios, no litoral da Baía, no norte do Brasil, ao português Diogo Alves, que no bronze, veio até À cidade de Viana do Castelo.
Foi colocado na artéria mais nobre da urbe vianense e a revolucionar, pela negativa, em todos os festejos ali desenrolados, o barulho de armar e desarmar palanques, além de sons musicais, por vezes, estrondosos, fumaças e cheiros de iguarias comestíveis, bem como o lixo lançado na água que cobria os seus pés, no tanque em granito onde estava colocado.
Foi transferido, mais tarde, para a zona envolvente da Praia Norte, mais perto do mar, que agora não contrasta com o local, porque entre os diversos significados que lhe eram atribuídos chamavam-lhe o “homem branco molhado”, ou o “náufrago”.
Quando a pandemia abrandar, voltando tudo à normalidade, na Praça da República as pessoas que apreciam as bandas musicais poderão, sem dúvida, junto à implantação do coreto, ter agora mais espaço de acomodação para as escutar, nas Festas da Senhora d´Agonia, tornando-se “uma verdade de La Palice”.
Nota: Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.