Crónica das Imagens do Viver

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Sidónio Ferreira Crespo

A vida, embora nem todos aceitem esta teoria, é composta de afectos e desafectos. Os conceitos que cada escultor da escrita deixa cinzelado, no campo real ou irreal, vinculam, casuisticamente, uma forte mensagem de prevenção na esteira conjuntural do que pode vir a acontecer no planeta Terra, face à interacção do meio. Nesta variada e múltipla conjugação, a inveja é um sentimento que se traduz pelo desejo de possuir aquilo que o outro tem ou de igualar ou superar em alguns aspectos. Fora dos grandes centros urbanos, na maioria dos casos, os vizinhos conhecem-se, mas fazem, por variadíssimas razões, que passe ao lado essa relação. A cultura da sã convivência esquece-se, em alguns panoramas do viver, proliferando o ciúme, a cobiça e a rivalização, a notar que estas pulsões de aversão não disfarçam, podendo tornarem-se, até, mordazes. Continuando a referenciar o cenário do comportamento humano há personalidades que não são lembradas e, outras, no quadro comparativo de valores, são reconhecidas tanto através de memórias ou afectos como, algumas, com direito a integrarem-se nas toponímias locais. Porque haverá, então, entre elas, um tratamento tão diferenciado? Face a este contraditório surge, no palco da origem, a falta de simpatia de quem decide, afastando o talento, num contexto enquadrado, maioritariamente, ma geringonça política. Vive-se numa sociedade carregada de generalizados conceitos e forte estigmatização. Entra no quotidiano das coisas o compadrio ou mexericos, o caciquismo, os compromissos de grupos, a carência de coragem, aliado À isenção, bem como as intrigas de posições entre classes políticas que, infelizmente, a democracia não as diluiu, continuando a serem aproveitadas. O mundo cão prossegue… Cessará, porventura, um dia?

Quando, pacientemente, tenho disponibilidade para ouvir o Presidente da República, muito no seu tom de cronista, que parece não ter perdido os hábitos antigos, interrogo-me, porque dá a impressão que está a falar um membro do Governo, mostrando, em certos pontos críticos, alguma complacência, a dar indícios de beliscar a independência. É o país que temos, que tem sofrido as mais variadas contingências, desde a sua fundação, a partir de D. Afonso Henriques, mas devemos ter orgulho em sermos portugueses, numa pátria que foi sempre aberta ao mundo, através de um grande império que seguiu o seu caminho perante as eventualidades temporais. No presente foi necessário passarem-se nove meses, o mesmo período da gestação de uma criança, para que na esfera do Ministério da Administração Interna viesse a ser discutido e analisado o vergonhoso escândalo policial ocorrido no aeroporto de Lisboa.

Há políticos e políticos! Desde Abril de 1974, na ditadura da democrática dos números, exemplificando, é a maioria, ainda existem políticos bastante extravagantes, para não dizer ridículos, ou até uma pior adjectivação. Enquanto Não sobem o degrau do poder cumprimentam todo o povo. Depois, a valorizarem importância, esperam que sejam cumprimentados, ou declinam, pura e simplesmente, a saudação, quando não interessam as gentes. As pessoas são serenas, como afirmava um militar da Revolução de 1974, mas sofrem de amnésia, porque esquecem com facilidade tudo o que é menos bom, perdendo, muitas vezes, a oportunidade da mudança através do voto eleitoral. Todo este conjunto de procedimentos e aproveitamentos, como não podia deixar de ser, é o ciclo da vida. Triste para uns, meno0s dolorosa para alguns, ambiciosa e cativante para outros, que muitas vezes, para estes, acabam na barra do tribunal. A barriga dos portugueses é como um harmónio, porque encolhe para os que têm fome, abrindo-se para aqueles que comem do bom e do melhor, que na linguagem popular é o chamado “bife do lombo”.

No universo da vivência humana, tudo numa simbiose de integração democrática, constitucionalmente, o desempenho das actividades dos políticos na vertente do poder que exercem, ou exerceram, as suas funções estão sujeitas a críticas, fundamentadas, porque são legítimas e necessárias.

Nota: Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

 

 

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