As coisas importantes só têm importância quando não estão. E quando não estão levam-nos à loucura. Como um grande amor que partiu… Precisamos da arte como precisamos ser amados. Podemos achar que não. Que há coisas fundamentais como a saúde e os seus cuidados, poupar para uma boa casa, ter um carro confortável… Mas a pior maleita é a da alma. Ainda que o não saibamos ou teimemos negar, mesmo vivendo sós e sendo essa uma opção consciente, em algum momento precisaremos de um conforto, de um rosto que nos olhe directamente, de uma pele que não a nossa para nos tocar.
A arte convoca-nos e torna-nos parte dela. É pele na nossa pele. Toca-nos. É na arte que somos e nela que respiramos. Podemos ir e vir, mas havemos de lá voltar. Somos tão semelhantes uns aos outros que, de alguma forma, em algum momento, alguém vai dizer a realidade como a sentimos e nunca pensamos que alguém a pudesse ver como nós. E, num instante, estamos todos conectados. Pela comoção. Como uma teia emotiva. Como o escape libertador. E os workshops enchem com professores, químicos, comerciais, burocratas, executivos…
O artista é um corajoso. Ousa expor-se da forma mais despida possível. Mostra o seu íntimo sem esconderijos. Não há nada mais humilde. Louvável?
O olho do espectador, talvez a parte mais vulnerável do corpo, absorve para nunca mais ver igual, ainda que não lhe tenha agradado.
Uma foto. Cenário de guerra! Síria. Um teatro de marionetas improvisado nos destroços, com destroços. Dois adultos de um lado. Uma plateia de crianças do outro. Cenário de paz!
O mundo salvar-se-á quando o Homem perceber que a única arma é a Arte!
*Actriz, encenadora e dramaturga