Crónica de maldizer. Mais uma?! (conclusão)

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Defensor Moura

Como o espaço da Aurora do Lima é sempre limitado, a minha apreciação da crónica de Rui Maia, publicada em 12 de Maio, teve de ser repartida por dois artigos (e teria muito mais a dizer…). 

ESTACIONAMENTO – Naquela crónica Rui Maia diz que Viana do Castelo é uma cidade caótica do ponto de vista do estacionamento e, nos últimos tempos, tenho muita pena de lhe dar razão, tal é o número de viaturas estacionadas em locais proibidos, com grande falta de civismo dos condutores e não menor complacência das autoridades policiais.

Imagine-se o que seria se não houvesse três mil e quinhentos lugares de estacionamento subterrâneo e todos os carros estacionados nos parques estacionassem nas ruas. Onde circulariam os peões e onde se instalariam as múltiplas e amplas esplanadas que surgiram na cidade nos últimos anos?

Já agora pergunto em quantas cidades (que valha a pena visitar!) há estacionamento gratuito ou em que haja estacionamento pago mais barato no centro da cidade? No estudo comparativo que se fez há alguns anos, essas cidades não existiam a não ser nas crónicas de maldizer.

PONTE DE LIMA – Não deixa de ser curiosa a comparação com a vila de Ponte de Lima, porque Viana do Castelo também já teve um imenso areal a separar a cidade do rio, onde estacionavam muitas centenas de carros, mas a autarquia vianense não quis aquele areal em frente à cidade e optou por urbanizar o espaço com relvados e equipamentos que só a valorizam: duas marinas, a Biblioteca, o Coliseu, a Praça da Liberdade com serviços públicos e vários restaurantes e, ainda, o chamado complexo turístico da marina.

Alguém duvida que a opção da nossa autarquia foi mais vantajosa para a cidade e para os vianenses? Mas nós não queremos competir com Ponte de Lima e desejamos que cresça e se valorize muito, porque isso será melhor para os amigos limianos e para todos os municípios vizinhos.

Como o articulista refere que aquela vila mete a capital de distrito num bolso, vale a pena recordar aqui que, segundo a última publicação do Instituto Nacional de Estatística, o Índice de Poder de Compra de Viana do Castelo é 93,8 e o de Ponte de Lima é apenas 72,2 da média nacional.  Como se verifica, também aqui os bolsos dos vianenses estão mais recheados e não é o frenesim de visitantes e turistas na vila, referido pelo articulista, que enche os bolsos aos limianos! 

Os turistas que se espalham pelo Cabedelo, Praia Norte, Santa Luzia, Praça da Liberdade e Centro Histórico de Viana do Castelo, além dos que vão às praias e aos múltiplos restaurantes de outras freguesias do concelho, seriam suficientes para encher duas ou três vilas de Ponte de Lima ao fim de semana! 

Saberá o articulista que, por exemplo, o Elevador de Santa Luzia transportou um milhão de passageiros numa década e que o navio museu Gil Eannes teve um milhão de visitantes (com entradas pagas!) em vinte anos, sendo o museu mais visitado do norte do país, depois de Serralves? Porque se insiste em maldizer Viana?

JUSTIÇA – Não posso deixar de concordar com o articulista Rui Maia quando diz que a nossa Justiça vive dias de amargura, porque também acho que a Justiça é porventura o problema principal da nossa democracia, mas considero que dizer que tem sido votada ao degredo é uma afirmação exagerada, tal como afirmar que a Constituição está obsoleta é quase uma heresia, sobre uma lei fundamental que, embora possa precisar de alterações pontuais, é considerada uma das mais progressistas do mundo. 

HOSPITAL – Finalmente, até fiquei arrepiado ao ler … o Hospital da cidade que, à custa da caridade, lá se vai apetrechando com alguns meios de diagnóstico, para não evocar o estado obsoleto e deprimente das suas instalações, bem como a falta de recursos humanos …”.

No primeiro artigo eu disse que o cronista conhece mal Viana, tenho de reconhecer que o senhor Rui Maia conhece a nossa cidade de … há quarenta anos!

O Hospital é a minha vida desde há mais de quatro décadas e ser-me-ia fácil escrever as  24 páginas do Aurora do Lima sobre o que foi a evolução dos cuidados hospitalares em Viana do Castelo, mas vou-me limitar a três pontos referidos pelo cronista. O Hospital da Misericórdia já foi substituído há 38 anos pelo moderno edifício da encosta de Santa Luzia, que é tudo menos obsoleto e deprimente. Sobre o pessoal só comparo dois números: em 1981 havia vinte médicos no quadro e agora há mais de duzentos clínicos de múltiplas especialidades, a que acresce igual multiplicação de enfermeiros e de todos os outros profissionais hospitalares. E quanto ao equipamento seria tão longa a lista que me abstenho de a referir mas posso-lhe afirmar que o Hospital de Viana do Castelo é, em várias avaliações oficiais, um dos melhores hospitais distritais de todos o país, quer no que se refere ao equipamento quer no que se refere à qualidade dos cuidados prestados.

Claro que o edifício precisa de ser ampliado e há carências de pessoal e de equipamentos, como em todo o país (no Hospital e não só!) que é preciso continuar a melhorar e que os vianenses através da Liga dos Amigos do Hospital vão ajudando a completar. Não por caridadezinha como diz, mas por consciência cívica de que, sendo os recursos públicos limitados, todos devemos contribuir para o nosso próprio bem estar. E a população tem há muitos anos essa consciência de que o Hospital é a casa comum dos vianenses e “chega-se à frente” quando é preciso, em vez de se ficar pela maledicência.

O sr. cronista saberá que o nosso foi em 1992 o primeiro Hospital do país auto-suficiente em sangue e que mantêm há trinta anos essa auto-suficiência para tratar os nossos doentes, porque os vianenses interiorizaram o bom hábito da solidariedade e vão regularmente ao hospital doar o seu sangue?

E antes que o director do jornal me obrigue a dividir outra vez o artigo, fico por aqui. Mas voltarei se necessário for!

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