D. Oscar Romero

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Manuel Quintas

No ano de 1980, quando Óscar Romero, em plena luz do dia, celebrava a santa missa no altar da sua catedral, um tiro certeiro “mandou-o desta para melhor”. A onda de indignação que varreu o mundo nunca mais lhe restituiu a vida. Morreu o defensor dos pobres espoliados e o denunciante convicto das injustiças da corrupção vigente. As armas que usava eram só duas: a força da palavra e a força do exemplo. A vida dele impunha-se e a sua voz era mais sonora do que um alto-falante no cimo da torre.

Tornou-se tremendamente incómodo na defesa dos pobres assassinados, das viúvas espoliadas e dos órfãos sem tribunal que os defendesse. A defesa das ovelhas do seu rebanho apenas com a força da palavra e com o testemunho da sua vida era demasiado afrontosa – e até vergonhosa – para a ditadura salvadorenha. E bastou um tiro.

A defesa dos agricultores executados, só porque ocuparam os campos que lhes pertenciam, valeu-lhe a glória de mártir e pai dos pobres. Convicto e consciente da política salvadorenha, ele sabia o que lhe poderia acontecer. Por isso mesmo ele próprio avisara o seu rebanho que, se Deus pegasse na sua vida, o seu sangue seria semente de liberdade e sinal de esperança para a sua pátria. Nunca aceitou guarda-costas porque todo o povo o guardava. E todo o povo que o estava a guardar, escutando a sua homilia, viu-o tombar de pé porque ele estava de pé. Os homens grandes morrem de pé.

Quando João Paulo II andou por aquelas terras, após longa oração junto do seu túmulo, tomou a peito o seu processo de canonização que, mafiosamente, ficou parado nos meandros das secretarias do Vaticano. Mas, quando chegou o Papa Francisco, o processo foi desenterrado com a expressa ordem de andar para a frente. E andou mesmo. A canonização vai acontecer em 14 de outubro próximo.

Que feliz eu me sinto por ter na minha igreja baluartes de fé e bispos sem medo, cristãos convictos e heróis pátrios que o mesmo fizeram. Teotónio de Valença, António Barroso, Nuno de Santa Maria e Amélia de Orleães e Bragança, são só alguns… A minha Pátria carregada de mentalidade agnóstica e maçónica ressurgirá do meio da cinza suja onde a meteram, com portugueses semelhantes a estes que, bem espero, irão surgir neste século.

Decidi falar da grandeza heróica de D. Óscar Romero porque foi mártir no meu século, porque muito li do que os jornais da época diziam dele e porque o Sumo Pontífice de Roma anunciou a sua canonização para o dia 14 de outubro. Acho-o um belo exemplo de vida para os sacerdotes da nossa Diocese nos seus quarenta anos de vida.

Foto: Divina Misericórdia

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