Das Neves… fomos a Viana… 

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É verdade! Quando, nas Neves, as duas bandas de Barroselas, a Joana Miranda, a Lara Escoval, a Leandra Dias, o Pedro Miranda, e o muito público presente, entoaram em uníssono, “Havemos de ir a Viana” estava-se como que a oficializar a vontade de participar na romaria. 

Dos acordes das bandas à harmonia das vozes, em perfeita sintonia, capitaneando um público que, emprestando tudo quanto os pulmões podem sustentar, mostraram aos autarcas presentes a vontade de presença nas festas Senhora D’Agonia. Assim o entendemos!

Revivendo alguns tópicos da festa da Senhora das Neves, a Romaria das três paróquias – Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, vivida num local específico que, no pensamento de alguns, enaltece o lugarejo como “centro do mundo”!

Não desalinhando com a simbologia da expressão, este lugar fora também outrora motivo de arrelias exponenciadas em diversas interdições, quer de ordem clerical, quer civil. Porém, a vontade do povo, selada com o esforço e união de vontades, vai permitindo que nas últimas décadas as festividades prossigam com a paz que sempre deveria ter sido natural.

Rememorando momentos festivos das últimas décadas, tenho presente as mais diversas imagens e personalidades convidadas a participar nesta emblemática festa. Nomes como Amália Rodrigues, Tony de Matos, Cândida Branca Flor, Roberto Leal, Marco Paulo, Paulo de Carvalho, ou ainda o João Carlos Silva, etc., etc., etc., trouxeram o enlevo da qualidade da verdadeira nata dos artistas da sua época! Porém, a representação do “Auto da Floripes” foi sempre um momento grande do cartaz promocional da festa, da qual, felizmente, há nomes perpetuados tanto no estudo do auto, como na interpretação do mesmo! Lembremos dois bons exemplos: Leandro Quintas Neves – o estudioso do auto, ou José Pereira, alcunhado de Pereirinha, como intérprete do “Oliveiros”, entre outros que serviram a causa.

No pretérito dia 5 de agosto, à hora do costume, subiram o tablado os atores do icónico auto; todavia, há já alguns anos que não presenciava esta representação popular! E fiquei deveras feliz pelos progressos entretanto produzidos. E que bem! Se me for admitida a comparação entre a revitalização de velhas moradias e o casamento entre o antigo e o moderno numa simbiose perfeita, do mesmo modo o auto evoluiu, respeitando as singularidades do espirito que fora primordial e as novas “nuances” introduzidas. Sem o desvirtuar, pertenceu ao “Brutamontes” criar empatias de interatividade, especialmente com as crianças. Mas nem mesmo o edil Luís Nobre, e os autarcas locais passaram despercebidos deste ator que, nos seus “repentismos”, incluía notas de muito bom humor, criando momentos prazenteiros no público. E, assim, o auto ficou mais popular, mais “alegre”, mais atrativo que, decerto, os menos jovens presentes irão passar a palavra, porque se enamoraram, e teremos representação por décadas sem fim! O tempo o dirá…

Sem desmerecer outros, terei que enaltecer o papel do ensaiador, Luís Franco, e do empenho do Pedro Rego, que muito têm contribuído para esta evolução. 

Outros números das festividades tiveram desenvolvimentos normais. A novena, os bombos, os artistas, os tapetes floridos, a procissão, o folclore, o cortejo alegórico, a festa da criança, etc.. Peca apenas o recinto que, para tamanhos folguedos, é manifestamente apertado. Felizmente, para este, há a nota, e perspetiva, de amplo alargamento, especialmente a questão de lugares de estacionamento, que brevemente serão iniciadas! 

E, apelidemos de cereja em cima do bolo, a edição da revista/livro “Festas Senhora das Neves, 3 a 7 agosto 2023”, que ilustrada com excelentes artigos e perspetivas de uma plêiade de colaboradores, concertaram muito do passado da festa, de valores do Vale do Neiva numa visão nunca antes plasmada! Parabéns ao seu coordenador, à comissão de festas e colaboradores por esta edição. Entretanto, passadas duas semanas, visitamos Viana do Castelo. Agora, ornada com mais policromias, qual “César” da Chieira, fomos desfrutar das festividades em honra da Senhora d’Agonia… 

E não nos limitamos às nossas gentes, convidamos um grupo de franceses à participação ativa nestes festejos! Foram nove, todos membros da Comissão de Geminação de Durrães e Tregosa com Vaulx-Milieu. Vieram conhecer mais um pouco da nossa região. Traziam espectativas duma festa com renome, porém renderam-se logo às múltiplas performances da Romaria d’Agonia. “Incroyable” – exclamavam em uníssono! Até a alegria deles me contagiava…, e, nem mesmo os dias mais chuvosos lhes retirava a vontade de conhecer mais, de viver a nossa ”chieira! Viveram dias intensos, momentos para recordar. Partiram, com vontade de voltarem, cantarolando: havemos de voltar a Viana…

É assim o Minho! São assim as gentes de Viana! São assim as gentes do Vale do Neiva que, irmanadas do espírito festivo, contribuem para que as festividades locais, e da cidade, tenham mais vida, mais visitantes, mais admiradores que as propagandeiam ao gozo de elevar a fasquia “qualidade”, para prestações superiores! 

Mas, do bruaá de vermos tantos e tantos de “bocas abertas”, extasiados de assombro, merecessem a pertinência da gratidão, todos quantos têm colaborado em quaisquer das demonstrações, incluindo quem desde o já longínquo 1744 tem sido alimento perene, qual subtil fermento, que torna esta festa popular de Portugal ainda mais sublime.

E que belo, que harmonioso, “casamento” onde o religioso respeita o profano e o profano tem orgulho no religioso!

Todos estão de parabéns! Todos merecem, no plural, Obrigados e Bem hajam todos! 

Mota Leite

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