David Cronenberg

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Alcino Pereira

Apesar de Paul David Cronenberg ser reconhecido pelos meios artísticos como um prestigiado realizador, até há bem pouco tempo, desconhecia por completo os seus emblemáticos filmes, não fosse a crucial indicação de um amigo, que considerou Cronenberg um especialista em enredos mórbidos e sinistros, algo sem paralelo no mundo do cinema.

Perante tal recomendação, assisti ao primeiro filme que me sugeriu, denominado “Irmãos Inseparáveis de 1988”, suportado pela peculiar vida de dois gémeos idênticos, Beverly e Elliott, que se distinguem, por uma cumplicidade inabalável e um notável valor cognitivo. Tanto mais que ao formarem-se na área de ginecologia, ao fim de alguns anos, gerem com categoria uma clínica rotulada. Só que ao tratarem a atriz Claire Niveau, uma cliente momentaneamente depressiva, Elliot aproveita-se dessa circunstância para envolver-se sexualmente com ela, alternando com o seu irmão Beverly, sem que ela repare nessa combinação iníqua. Porém, Claire, ao detetar uma nítida incongruência no comportamento de Elliot, acaba por descobrir que estava a ser usada pelos dois, desmascarando-os à posterior. No entanto, Beverly ao mostrar-se apaixonado por Claire, provoca uma instabilidade emocional nos dois irmãos, remetendo-os para uma erosão confrangedora.  

Fascinado com esta obra insólita, debrucei-me atentamente sobre a segunda opção de Cronenberg, intitulado “Na Hora da Zona Morte de 1983”. De índole utópico, essa história aborda as incidências incríveis dum acidente grave, que mudou drasticamente o percurso natural do jovem professor Johnny Smith. Após cinco anos em coma profundo, Johnny apercebe-se que, inusitadamente, detêm atributos paranormais, manifestados através de visões trágicas, quando toca ou se aproxima dum determinado indivíduo, salvando essas pessoas, graças á sua intervenção providencial. Não obstante essa faculdade, Johnny é um homem solitário e bisonho, definhando-se em termos de saúde, a cada passo que demonstra os seus poderes. Contudo, ao travar conhecimento com um político rabugento, pressente que chegou o momento decisivo da sua missão.

Notoriamente agradado, passado uns dias, visionei ainda outro filme, chamado “Spider de 2002”, por sinal um ótimo exemplar de cinema. No que se refere ao argumento, este gira à volta da sorumbática figura Spider que, regressando às origens, se instala num local sinuoso e, com isso, revive a sua infância sombria, nomeadamente toda a cadência, que na ótica dele causou a morte da sua Mãe, supostamente perpetrado pelo seu Pai e a sua amante.

Por último, destaco, talvez o filme mais famoso de Cronenberg, “A Mosca de 1986”, um remake da obra de 1958, claramente mais impactante e com melhores efeitos especiais do que o original. No que concerne à narrativa, ela conta as vicissitudes do estranho cientista Seth Brundle, inventor duma extraordinária máquina de teletransporte. Mas ao introduzir-se nela precipitadamente, não nota que uma mosca se inseriu dentro do equipamento, gerando uma inacreditável fusão entre os dois corpos. Perante esta situação aterradora, Seth paulatinamente, para seu desespero e da sua amada, transforma-se num inseto gigante e medonho. 

Definindo o estilo de David Cronenberg, salienta-se a tendência deste em gizar o perfil do protagonista do filme, assente numa lógica bizarra e singular, permitindo que o enredo se desenvolva numa trajetória dramática e tenebrosa, fulcral para entusiastas que apreciam desenlaces de cariz inóspito e imprevisível.

Essa idiossincrasia, também é visível, em outros dois filmes do cineasta, designadamente Videodrome de 1983 e Crash de 1996, que, na minha opinião, não estão ao nível das quatro longas-metragens anteriores.

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