De novo no Gil Eannes

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Gonçalo Fagundes Meira

Passei por lá para observar nova exposição de fotografia, desta vez do José Pastor, que tal como a anterior do Egídio Santos, é uma exposição de visita aconselhada. Também esta tem, em boa parte, como tema central o mar: os estaleiros, o porto e a costa marítima.

São imagens captadas e trabalhadas por alguém que tem um grande domínio da arte de fotografar, daí a grandeza do trabalho que se mostra, mercê dos pormenores e ângulos fotografados, jogos de luzes, em função das horas em que as imagens foram conseguidas, do realce que se dá às pequenas coisas, da grandeza dos planos e tantas outras combinações. Mas o livro do José Pastor recentemente apresentado diz bem do seu mérito.

Vista a exposição, eu e o Carlos Vieira, ambos tocados pelos navios, tivemos o grato prazer de sermos acompanhados em mais uma visita ao Gil Eannes pelo homem que se tem empenhado na sua recuperação. Nicolau Alves, prestavelmente, mostrou-nos o resultado do trabalho árduo desenvolvido, surpreendente para quem conheceu este Navio Hospital quando ele, em adiantado estado de degradação, entrou novamente nos ENVC para uma primeira solidária recuperação.

Com o objetivo de alertar na revista “Roda do Leme” para a lenta agonia do Gil Eannes, acompanhado pelo António Basto, tive a oportunidade de visitar o navio em setembro de 1996, quando o mesmo apodrecia no Cais de Alcântara. Pessoalmente, confesso que tinha poucas esperanças de que o apelo publicado resultasse em ação alguma com vista à sua recuperação. No entanto, mercê da iniciativa do nosso Município, presidido por Defensor Moura, Viana, com muitos entusiastas, onde também me integrei, fez regressar esta nobre embarcação ao local em que foi construída.

Hoje, ao visitar este “Hospital Marítimo”, não posso deixar de admirar quem tão bem o tem tratado, respeitando escrupulosamente as funcionalidades que tinha quando partiu para a Terra Nova. Não falta muito, talvez, cerca de 30% de todas as áreas, para que se apresente tal como era em 20 de março de 1955, quando deixou Viana. Para mais, enriquecido com pormenores da sua atividade hospitalar.

Recuperadas brilhantemente, na parte de assistência hospitalar, lá estão a sala de operações, a enfermaria, os gabinetes de atendimento dos doentes, o Raio X, a farmácia, etc. Depois, os aposentos de todo o pessoal que dava vida a este “Anjo do Mar”, do comandante e pessoal médico ao capelão, passando pelas mais diversas especialidades, onde tudo foi resposto, para que tudo fosse como há meio século passado. Mas há muitas outras áreas recuperadas que se torna exaustivo citá-las. Referência obrigatória para a estação do TSF, uma obra de arte. Trabalha-se agora na recuperação da casa das máquinas, com boa parte já realizada, um mundo grandioso que encanta quem ama os navios. A tudo isto temos que juntar um sistema de proteção que foi montado, para que os visitantes tudo possam ver, mas em nada mexer, degradar ou roubar, como regularmente acontecia.

Ao felicitar Nicolau Alves por tão brilhante serviço prestado, este logo teve o cuidado de afirmar que com ele está mais gente, que são especialmente os colegas, que durante o dia não regateiam esforços para o êxito que está à vista de todos. Vale a pena visitar de novo o Gil Eannes. E quem nunca lá foi tem agora mais razões para o visitar.

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