Deixem o Eça em paz!

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Humberto Pinho da Silva

Parece ser afronta aos descendentes do escritor. As autoridades, com apoio da Fundação Eça de Queiroz, querem transladar os ossos do autor de “Os Maias” para o Panteão, alegando ser figura nacional. Todavia, a família não concorda, declarando que o antepassado deve permanecer onde se encontra desde 1989 – após três transladações, – no cemitério de Santa Cruz – Baião, em jazigo de família, ao lado da querida filha Maria e do neto Manuel, estando dispostos a recorrer à Justiça, caso seja necessário. Para já, enviaram ao Presidente da Assembleia da República carta assinada pelos bisnetos, invocando que era vontade do bisavô ficar em Baião. Argumentando, ainda, que os restos mortais pertencem legalmente à família e não ao Estado. Entretanto as autoridades parecem querer trasladá-lo, a 27 de setembro, para Lisboa.

Que Eça é merecedor de permanecer no Panteão, onde repousam ilustres escritores e figuras notáveis da nação, ninguém dúvida, mas parece-me que a homenagem póstuma deve ter o acordo da família.

Desconheço porque, mesmo contra a vontade dos descendentes, querem prestarem-lhe essa honra, e deixando, há décadas, esquecido, quase abandonado, o maior prosador da língua portuguesa, Camilo Castelo Branco, de quem Castilho escreveu: “ Sim senhor! é mestre e cem vezes mestre, e de todos os nossos clássicos nenhum há que eu leia com tanto gosto e aproveite.” – in: ” Carta a Camilo, Lisboa, 02/01/1866. E o grande Unamuno, referindo-se ao “Amor de Perdição”, afirma: “Es uno de los libros fundamentales da literatura ibérica.” – “Por Terras de Portugal Y Espana”.

Não entendo certas atitudes, a não ser que haja razões que desconheço.

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