“Deus” e o pequeno sacristão (II)

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Aníbal Alcino

Quem concebeu o mar, as árvores, os peixes, os animais – os rios?!

(conclusão)

O Júlio Pomar era um grande artista, da mesma idade que eu, e veio de Lisboa para o Porto, a fim de seguir PINTURA nas Belas Artes da cidade Invicta, porque se constava que tinha melhores mestres como o arquiteto Carlos Ramos, o pintor Dórdio Gomes e o diretor Joaquim Gomes. Soube, mais tarde, que ele esteve preso na capital, com o falecido Presidente Mário Soares, nas cadeias da PIDE.

Com estas perguntas e questões, ficava baralhado e não sabia o que dizer – (tinha, então, 18 anos).

Foi o meu querido e falecido Amadeu Marinho, com estabelecimento de alfarrabista na Rua de Almada, no Porto, que me orientou e esclareceu com muitos bons livros que me emprestava e me deu a ler e a estudar. Deu-me a primeira Bíblia (de bolso) quando lhe expus as minhas dúvidas. Depois, comecei pelos portugueses: Eça de Queirós; Garrett; Camilo — (o que ele mais admirava), até aos mais recentes, como o Torga, Redol, Namora, etc., seguindo-se os estrangeiros como Tolstoi; Dostoiévski, Vítor Hugo, Balsac, Dumas (pai e filho), etc., até aos melhores romancistas americanos, como o que escreveu “Vinhas da Ira” etc., etc., um nunca acabar até aos meus vinte e cinco anos em que fui lecionar para Viana do Alentejo.

Todos os meus colegas iam lá comprar livros e o Guilherme de Carvalho (1921-1973) possuía uma biblioteca estupenda e foi ele que me deu a conhecer a obra poética de Fernando Pessoa, Camões, Gil Vicente, Namora, etc.

Os meus colegas dessa altura que ficavam e ficarão para sempre na História das Artes Plásticas Portuguesas, quer no campo da arquitetura, pintura e escultura foram os seguintes: Fernando Lanhas, arquiteto e pintor, criador da pintura abstrata. Era também o arquiteto e pintor Nadir Afonso, que tem uma “Casa-Museu”, na cidade de Chaves. Israel Macedo. Era o pintor Júlio Resende, que tem “Casa-Museu” em Valbom, Gondomar. Também o pintor Augusto Gomes, que possui uma “Casa-Museu” em Matosinhos, de onde era natural.

Era o Guilherme Camarinha – o maior pintor de tapeçaria com trabalhos em quase todas as cidades do país. Destacam-se os enormes tapetes expostos na Câmara Municipal do Porto e em edifícios públicos do Estado, mormente em tribunais, e era natural de Vila Nova de Gaia. Tem ainda um trabalho no átrio do Hospital de Viana do Castelo numa alegoria à assistência médica.

O António Cruz, sem dúvida o maior pintor aguarelista do país, representado em quase todos os museus, com filmagem dos seus trabalhos pelo realizador cinematográfico Manoel de Oliveira, de nome “O Pintor e a cidade”.

O Júlio Pomar, de Lisboa, com a “Casa-museu” nessa cidade.
O Fernando Lanhas, não tinha qualquer filiação política, era arqueólogo e um apaixonado pelos estudos de astronomia. Passava, parte da vida, a descobrir “fósseis” na Serra de Valbom. Eram ainda apoiantes e compravam trabalhos destes artistas, incluindo meus, os arquitetos Cassiano Barbosa, Arménio Losa, Januário Godinho; Rogério de Azevedo; Victor Palla e Carmo, que foi um dos maiores ilustradores das capas das obras dos escritores portugueses e estrangeiros desse tempo: americanos, franceses, russos e portugueses. E ainda o Viana de Lima, arquiteto, muito considerado.

O arquiteto Artur de Andrade, que concebeu o cinema Batalha – homem de esquerda, apoiante da candidatura do general Delgado em todo o país – de resto, a grande maioria de todos os estudantes de Belas Artes do Porto eram, nessa altura, Comunistas-Marxistas.
Os meus maiores amigos (1940-1950) eram todos comunistas. Muito bons rapazes e bem formados de caráter.

No prosseguimento destes artistas inovadores, um pouco mais tarde, apareceram o arquiteto Andressen e o Loureiro, que concebeu o pavilhão Rosa Mota no Porto. Isto para terminar que a crónica biográfica já vai longa, dizer que todos os amigos descritos atrás já morreram e terminaram como igualmente me vai acontecer, desfeitos em pó e cinzas. Em nada.

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