A ilusão do radical
Observando o que a história do ser humano nos apresenta, o Homem cai no erro tão vulgarmente como faz a própria rotina.
Imaginemos o seguinte cenário: Carlos, todos os dias, levanta-se para ir trabalhar num emprego que, ao longo dos anos, o deixou de satisfazer. Assim sendo, Carlos é alguém que irá ser consumido pela frustração. Se for apresentada uma melhor proposta a Carlos, digamos uma subida de posto, a entrada nos quadros da empresa e um aumento salarial, mas, em contrapartida, forem despedidos quatro trabalhadores, a probabilidade de insatisfação para com o seu emprego inicial é elevadíssima e levá-lo-á a aceitar a promoção que lhe é oferecida, mesmo que sejam despedidos quatro outros trabalhadores.
Sem nos querermos arrogar como detentores da razão, atrevemo-nos a dizer que Carlos, ao tomar esta opção, se torna representativo da maioria da população de um país.
Após uma breve análise do exemplo anterior, conclui-se que a atitude de Carlos representa a política a nível mundial: num clima marcado pelo conflito e pela aflição, aparece alguém que oferece a cura para tudo o que atormenta o povo, argumentando que a solução passa por movimentos de radicalização. E o que podemos admitir como sendo verdadeiramente preocupante nestes movimentos é a rápida adesão que acabam por obter recorrendo a argumentos falaciosos.
Exemplos destas ocorrências são facilmente enumerados com Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, que acabou por ascender ao cargo proferindo discursos xenófobos e negativamente radicais e, muitas vezes, bárbaros, como a construção de um muro; Jair Bolsonaro, atualmente presidente do Brasil, que foi eleito, também, através de um discurso extremista. Estes dois exemplos, sendo dos mais recentes, têm, como muitos outros similares, algo em comum: a promessa de mudança e de maior qualidade de vida através de atos radicais.
Assim, observando a atual Europa, conhecida pela tolerância e sentido humanitário/comunitário, podemos verificar uma gradual assomada de candidatos extremistas ao poder, juntamente com a afirmação de partidos radicais. Exemplos deste facto são, por exemplo, na França, Marine Le Pen; na Holanda, com Matteo Salvini; e na Hungria, Viktór Órban e, ainda que com muito menor dimensão, o partido CHEGA, em Portugal, todos recorrendo a discursos anti-humanitários e com propostas de ações radicais.
Concluindo, esta realidade, se bem que paulatinamente, começa a ser recorrente e não pode, de modo algum, ser desvalorizada num mundo que deveria ser alicerçado e consolidado em valores morais e éticos baseados na igualdade e comunitarismo.
Recordando ensinamentos históricos, é um facto que o extremismo nasce, como seria de esperar, um feto, fruto do desespero e insatisfação de uma população descrente de que o equilíbrio é fundamental, e alimenta-se da desvalorização da oposição, acabando por ganhar forma e por ansiar dominar a sociedade.
Ana Branco