Do romantismo ao realismo; da ficção à verdade…

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

Conheceram-se na praia, num Verão, já distante. Principiaram a dar os primeiros passos amorosos naquele extenso areal banhado pelo mar, onde o sol cai a pino e os corpos brazeiam-se num ambiente repou­sante, acolhedor e também frenético. As gaivotas, muito ao longe, a voar no azul claro do céu ou a mergulharem nas águas à procura de al­gum peixe descuidado, para matarem a fome, davam uma nota positiva da força que a natureza imprime a todos os seres para enfrentarem a vida. Os toldos, as barracas e os chapéus de sol, obedecendo a uma ordem da­da pelo banheiro, esperavam os veraneantes, para que todos se sentis­sem satisfeitos e realizados, naquele meio, na praia, local de diver­sões, de descanso, de prazer, de alegria, que pode, também, ser de morte.

O tempo passou. Mas a praia, anualmente, continuava a ser a mes­ma, que acumulavam, dentro deles, o cheiro do iodo proveniente das rochas, do sargaço e dos limos, juntamente com os pinheiros bravos e os eucaliptos, ao longe, no sopé da montanha. Sentados na areia, de mãos dadas, sempre planearam projectos futuros, senhores de si e possuido­res dos seus corações.

A viagem de núpcias fizeram-na até ao Alto Minho. Quiseram admi­rar museus carregados de história e arqueologia, ricas faunas e flo­ras, paisagens bucólicas e rupestres, etnografia e arquitecturas po­pulares, antas, castros, castelos, gravuras rochosas, mosteiros, cru­zeiros, pelourinhos, casas de granito, bem como vislumbrar recantos idílicos, rebanhos a pastorear e carros puxados por dois bois pachorrentos na ida e no regresso do trabalho campestre, enfim, desfrutan­do panoramas de rara beleza.

* * *

O tempo voltou a passar. Regressaram, novamente, ao Alto Minho, mais propriamente a Viana do Castelo. Queriam analisar, localmente, aquilo que as suas memórias retinham. Encontraram a cidade bastante modificada. Obras por todos os lados. Umas já concluídas e outras em curso. Este movimento construtivo imprime um aspecto mais harmónico, actual e progressista a todo o burgo vianense, transformando-se numa urbe com ruas, praças e avenidas modernas e arejadas, sem tão pouco se esquecer o passado, muito embora, alguns melhoramentos ou demoli­ções apresentem natureza discutível, face a quadros ou contexturas um tanto polémicas.

Envolveram-se em todo este ambiente acolhedor e, sem que disso se apercebessem, o dia chegou ao fim. Ao jantar, saborearam a afamada co­mida minhota regada pelo famoso vinho verde. Chegou, de facto, a noi­te alta. Era mês de Agosto. Decorriam os afamados festejos da Senhora d’Agonia.

Antes de deixarem esta terra de gente alegre e hospitaleira, as­sistiram ao final da festividade, no Jardim Público, enquadrado entre o rio, o mar e o oceano, secundado pela montanha, mais ao longe, nesta quadra com forte iluminação.

Nas margens do rio Lima, onde, um ao outro, soltavam adjectivos a qualificar este cenário, divertiam-se com as bandas de música, com o folclore, com os cantares ao desafio, com os gigantones e cabeçudos, num mar de gente ávida em registar toda esta alacridade de movimentos e cor, que só aqui se pode presenciar. Sentados numa das bancadas que ladeavam o rio, estavam fascinados com o fogo de artifício que emprestava ao local um espectáculo de beleza e arte, ao mesmo tempo que impressionados com aquela visão, e ainda enamorados, segredaram:- Viana do Castelo é uma terra maravilhosa, que jamais esqueceremos!

Nota: Este conto, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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