Conheceram-se na praia, num Verão, já distante. Principiaram a dar os primeiros passos amorosos naquele extenso areal banhado pelo mar, onde o sol cai a pino e os corpos brazeiam-se num ambiente repousante, acolhedor e também frenético. As gaivotas, muito ao longe, a voar no azul claro do céu ou a mergulharem nas águas à procura de algum peixe descuidado, para matarem a fome, davam uma nota positiva da força que a natureza imprime a todos os seres para enfrentarem a vida. Os toldos, as barracas e os chapéus de sol, obedecendo a uma ordem dada pelo banheiro, esperavam os veraneantes, para que todos se sentissem satisfeitos e realizados, naquele meio, na praia, local de diversões, de descanso, de prazer, de alegria, que pode, também, ser de morte.
O tempo passou. Mas a praia, anualmente, continuava a ser a mesma, que acumulavam, dentro deles, o cheiro do iodo proveniente das rochas, do sargaço e dos limos, juntamente com os pinheiros bravos e os eucaliptos, ao longe, no sopé da montanha. Sentados na areia, de mãos dadas, sempre planearam projectos futuros, senhores de si e possuidores dos seus corações.
A viagem de núpcias fizeram-na até ao Alto Minho. Quiseram admirar museus carregados de história e arqueologia, ricas faunas e floras, paisagens bucólicas e rupestres, etnografia e arquitecturas populares, antas, castros, castelos, gravuras rochosas, mosteiros, cruzeiros, pelourinhos, casas de granito, bem como vislumbrar recantos idílicos, rebanhos a pastorear e carros puxados por dois bois pachorrentos na ida e no regresso do trabalho campestre, enfim, desfrutando panoramas de rara beleza.
* * *
O tempo voltou a passar. Regressaram, novamente, ao Alto Minho, mais propriamente a Viana do Castelo. Queriam analisar, localmente, aquilo que as suas memórias retinham. Encontraram a cidade bastante modificada. Obras por todos os lados. Umas já concluídas e outras em curso. Este movimento construtivo imprime um aspecto mais harmónico, actual e progressista a todo o burgo vianense, transformando-se numa urbe com ruas, praças e avenidas modernas e arejadas, sem tão pouco se esquecer o passado, muito embora, alguns melhoramentos ou demolições apresentem natureza discutível, face a quadros ou contexturas um tanto polémicas.
Envolveram-se em todo este ambiente acolhedor e, sem que disso se apercebessem, o dia chegou ao fim. Ao jantar, saborearam a afamada comida minhota regada pelo famoso vinho verde. Chegou, de facto, a noite alta. Era mês de Agosto. Decorriam os afamados festejos da Senhora d’Agonia.
Antes de deixarem esta terra de gente alegre e hospitaleira, assistiram ao final da festividade, no Jardim Público, enquadrado entre o rio, o mar e o oceano, secundado pela montanha, mais ao longe, nesta quadra com forte iluminação.
Nas margens do rio Lima, onde, um ao outro, soltavam adjectivos a qualificar este cenário, divertiam-se com as bandas de música, com o folclore, com os cantares ao desafio, com os gigantones e cabeçudos, num mar de gente ávida em registar toda esta alacridade de movimentos e cor, que só aqui se pode presenciar. Sentados numa das bancadas que ladeavam o rio, estavam fascinados com o fogo de artifício que emprestava ao local um espectáculo de beleza e arte, ao mesmo tempo que impressionados com aquela visão, e ainda enamorados, segredaram:- Viana do Castelo é uma terra maravilhosa, que jamais esqueceremos!
Nota: Este conto, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.