Passava o dia 7 de dezembro do corrente ano de 2022. O claustro do Convento de São Domingos, em Viana do Castelo, recebia um evento cultural que, num contexto alargado de ação da Igreja Católica, a reafirma como (também) um centro dinamizador de Cultura.
Naquele ambiente claustral, outrora de recolhimento dominicano, multiplicaram-se formas de cultura, integradas no programa do 1ºEncontro da editora vianense Oficina das Edições/José Pastor.
Uma delas, aconteceu na Sala do Capítulo do Convento, onde foi apresentado o livro “O Amor Como Movimento Sagrado. Do Cântico dos Cânticos ao Cântico de Herberto Hélder”, da autoria de Vasco António Gonçalves.
A mesa desta cerimónia de lançamento e de apresentação deste livro era composta por Sua Excelência Reverendíssima o Bispo da Diocese de Viana do Castelo, D. João Lavrador, o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Padre Doutor Vasco António Gonçalves, como autor, o Prof. Doutor João Amadeu Silva, da Universidade do Minho, que apresentou o livro e o editor, José Pastor.
Constitui este livro a forma editada da tese de doutoramento do Doutor Vasco António Gonçalves que tem por base a empatia que o autor sente pelo “Cântico dos Cânticos” de Salomão, obra também inserida no livro “O Bebedor Noturno” de Herberto Hélder, sob a designação de “Poemas do Velho Testamento”. Neste trabalho académico, agora dado ao prelo, o autor procurou auscultar “…um sentido do sagrado” na obra do grande poeta da língua portuguesa que foi Herberto Hélder, considerando-o como “…um texto seu e não como uma tradução do bíblico”.
Este livro foi editado pela editora vianense Oficina das Edições/José Pastor, sendo o conceito editorial/estético e as fotografias da autoria de José Pastor.
O lançamento do livro do Doutor Vasco António Gonçalves, constituiu-se como o advento cultural da noite, dando razão de ser ao programa de animação preparado nessa ocasião para os Claustros de São Domingos.
Entretanto, assistíamos à materialização da Cultura numa exposição de esculturas de Rodrigo Cabral e Isabel Cabral patente no espaço exterior do claustro. O pátio central do claustro constituía-se como um objeto de arte visual, composto pelas peças escultóricas em ferro, sublinhadas pela iluminação vigilante dos escaparates dispostos nos corredores laterais.
Fugindo, então, os olhos para os corredores laterais do claustro, a luminosidade dos escaparates acolhia e vigiava as várias edições ilustradas, muitas delas raras, do “Cântico dos Cânticos”, um dos Livros da Bíblia, atribuído ao Rei Salomão, e pertencentes a Bibliotecas de Portugal e a coleções particulares.
Num completar humano dos sentidos a Música encheu o espírito, reafirmando o sagrado naquele claustro bartolomeano. Como referia Alain Daniélou (1907-1994), a Música… abre para nós a porta para os mundos celestiais. E, nesse sentido o Ensemble de Metais da ARTEAM – Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, dirigida pelo mastro António Silva, tocou a Fanfarra Vienense, de Richard Strauss.
Bem poderia São Frei Bartolomeu dos Mártires rejubilar, com um alargado Ardere et Lucere, desta feita com o fogo também divino e sagrado da Cultura a alumiar os espíritos, numa cada vez mais urgente e necessária desmaterialização dos valores no mundo moderno.
Por fim, durante o decorrer da cerimónia de lançamento do livro do Doutor Vasco António Gonçalves, José Pastor, responsável pela Oficina das Edições, anunciou estar prevista a publicação em edição fac-similada do “Catecismo ou Doutrina Cristã e Práticas Espirituais”, também conhecido por “Catecismo de Frei Bartolomeu dos Mártires”, nas comemorações do 2.º aniversario da Oficina das Edições.
Esta obra, publicada em novembro de 1564 e republicada em 1962 é, a par do “Estímulo dos Pastores” (Stimulus Pastorum), um marco importante da reflexão teológica e da ação pastoral e pedagógica do Santo Frei.
José Escaleira