Em volta do (atual) Hino Nacional

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Pimenta Castro

Li, algures, que um sujeito se insurgiu contra o nosso atual Hino Nacional, por inserir as palavras «Às armas, às armas», que seriam um grito bélico e, obviamente, contra a paz. Temos que saber, em História, em que circunstâncias foi escrito. Como muito bem disse Luiz de Camões, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando novas qualidades”. Temos de ver em que circunstância “A Portuguesa” se tornou o nosso Hino Nacional, pelo qual eu tenho uma grande afetividade. Até aí, o nosso hino nacional era o da “Carta”, hino da Monarquia Constitucional, composto por D. Pedro IV de Portugal (Primeiro Imperador do Brasil), contra o absolutismo “miguelista”. 

Mas como é que “A Portuguesa”, o nosso atual hino, se tornou o nosso Hino Nacional? É um “assunto” que a grande maioria dos portugueses desconhece. Senão vejamos: “A Portuguesa” nasceu como uma canção de índole patriótica em resposta ao Ultimato Inglês que defendia o abandono das posições portuguesas, em África, no território compreendido entre Angola e Moçambique, que constavam no chamado “Mapa cor-de-rosa”. Este ultimato obrigava-nos a abandonar esses territórios que alegávamos serem nossos, porque os descobrimos. Mas os britânicos diziam que os não possuíamos pois não os ocupávamos na totalidade. Este ultimato, a que fomos obrigados a obedecer, por não termos forças que contrariassem a então grande potência inglesa, revoltou vivamente o povo português, que se sentiu humilhado pelo seu “mais antigo aliado”. Foi uma grande revolta entre o povo português, que os republicanos, e não só…, se virão a aproveitar mais tarde.

Mas como nasceu este grande “Hino”? As estrofes escritas em 1891, pelo dramaturgo Henrique Lopes de Mendonça (com música de Alfredo Keil), tornaram-se extremamente populares, devido ao desagrado do povo português por essa afronta. Só mais tarde, em 1911, a República o veio a adoptar como hino nacional. Como escreveu Maria Filomena Mónica: “De facto, quantos indivíduos saberão que o hino fazia parte de uma «revista à portuguesa», que subiu à cena, num teatro situado perto da Praça da Alegria, pouco depois de ter chegado a Lisboa a carta, datada de 11 de Janeiro de 1890, que o Primeiro-Ministro britânico, Lord Salisbury, através do seu embaixador em Lisboa, enviara ao governo português (um acontecimento que passou à História como o «Ultimatum» (1)”

Como se pode ver, este “hino” foi composto, em 1891, por Henrique Lopes de Mendonça (letra) e pelo Alfredo Keil (música), em desagrado ao ultimato inglês de 1890. Este ultimato vai levar a uma reação enorme do povo português que, com o tempo, levará ao fim da Monarquia Constitucional e à Implantação da República, em cinco de outubro 1910. Em 1911, “A Portuguesa” torna-se o nosso Hino Nacional na primeira sessão da Assembleia Nacional Constituinte, realizada a 19 de junho de 1911.

1 – Mónica, Maria Filomena, “Confissões de uma Liberal”, páginas 22 e 23, Editora Quasi, coleção inéditos Sábado,1º EDIÇÃO, Maio de 2007, Vila Nova de Famalicão.

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