Emigração vianense para França

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José Rego

Faz 56 anos que naquele verão de 1964, a vida em Portugal era difícil para muitos dos nossos compatriotas. Emigrar era a melhor solução.

Algumas dezenas de aventureiros vianenses tentaram a sorte e naquele mês de julho de 1964, prepararam três motoras de pesca para a aventura. E, assim, sete dezenas de vianenses embarcaram e fizeram-se ao mar alto até à terra prometida, a França.

No meu caso, a “embarcação” transportou 21 vianenses, uma outra em 03 de agosto, com 32 “passageiros” e a menos lotada foi com apenas 17 minhotos. Sendo assim, uma vintena de chafenses tiveram esse “privilégio”.

A motora na qual embarquei, partiu do porto de Leixões, a segunda do porto de Viana e a terceira a norte da praia da Amorosa em Chafé.

Por conseguinte, a intenção quanto a esta memória da história da emigração portuguesa de há mais de meio século, seria de bom grado que aqueles que ainda cá estão neste mundo humano, pudessem confraternizar de modo a poderem lembrar as suas dificuldades, os seus progressos na vida e as suas aventuras.

Assim sendo, propunha que contactassem o autor destas linhas para: [email protected] ou para o telemóvel 965 135 346.

Há 56 anos, o autor destas linhas, três semanas depois de completar 18 anos, emigrou clandestino para França.

Aconteceu naquele dia 12 de julho de 1964.

Saí o portão da casa dos meus pais às três horas da madrugada direção à estação de Darque, Viana do Castelo, com uma mala de cartão na mão que o meu pai me tinha comprado por 7$50 escudos, dias antes, na Casa Ferros em Viana do Castelo. Tendo feito o trajeto a pé, entrei no primeiro comboio para o Porto. Saí na Estação de São Bento.

Apanhei o trâmuei para Matosinhos. Da parte da tarde entrei na motora que estava atracada ao cais sul do porto de Leixões.

Ao raiar da aurora daquele dia 13 de julho, largaram as amarras e fizemo-nos ao mar alto juntamente com outros barcos pesqueiros. Eramos 21 vianenses.

Ao fim de três dias e três noites, ou seja, na manhã do dia 16 de julho, atracamos no areal da praia em Saint Jean de Luz, no país Basco francês.

Em menos de meia hora, a Gendarmerie Mobile daquela vila, reuniu-nos no interior do sopé da duna.

Levaram-nos e como estávamos bastante “bronzeados” mandaram-nos tomar duche.
De seguida encaminharam-nos para um restaurante. A fome era negra. E lá ofereceram-nos o tão saboroso pequeno almoço com croissants, porém, àquela hora serviu de almoço. Lembro que, pela primeira vez, saboreei os croissants.

Num Jeep, acompanhei um militar e um valente cão, no dever de, no banco, cambiar os escudos por francos. É certo que conhecia a base do idioma francês por ter frequentado o seminário, uns anos antes.

O franco naquela data, estava ao câmbio de 3,42 escudos. (lembrando também que: no câmbio um escudo valia duas pesetas).

Na parte da tarde, os militares entregaram-nos um salvo conduto, válido para três meses.
Quanto a mim, comprei o bilhete de comboio para Paris, na estação d’Austerlitz.

À chegada comprei o bilhete de metro e segui até à estação Chateau de Vincennes. Aí, comprei o bilhete de autocarro para Champigny, département 94.

Chegado ao destino, esperei até a chegada do meu primo António Silva, por alcunha, Tone do Souto, – vive em Chafé – e habitava o 1º andar no Foyers du Batiment et des Travaux Publics.

Aí pernoitei. No dia seguinte, dia 17 julho, acompanhei-o até ao local de trabalho. Emprestou-me 30 francos. Os quais, reembolsei após os meus primeiros três meses de trabalho. Comecei a minha vida …do zero.

Nesse dia à noite, o meu primo António encaminhou-me para junto de um outro primo do meu pai, Manuel Vicente, por alcunha Manel Samoca, – falecido – de Castelo do Neiva, que morava no 2º andar, no Foyer de Bobigny, département 93.

No dia 18 julho acompanhei o sr. Manuel até ao Chantier em Meudon, arredor de Paris…
No dia 19 julho, ele orientou-me o caminho para o escritório da empresa Périno Frères, de origem italiana. Entregaram-me um contrato de trabalho. O meu primeiro salário foi de 2,90 francos/hora.

Portanto, o início do meu labutar para a vida, começou como “compagnon électricien”, exatamente, no dia 24 de julho 1964.

Hoje, 56 anos mais tarde, a vida continua…

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