Empresas com alma

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Na nossa anterior edição (pág. 4), num trabalho sobre a conferência “Crescimento e sustentabilidade em Viana”, citamos o autarca vianense, Luís Nobre, ao afirmar que Viana está a fazer uma viagem geradora de oportunidades e riqueza; um território robusto, sustentável e com futuro…

É animador constatar esta realidade. Uma região desenvolvida é geradora de estabilidade das populações, fixação de quadros, bom funcionamento do comércio e da restauração, e potenciadora de indústrias subsidiárias. Em suma, é um espaço onde pode reinar uma vivência de vigorosa sociabilidade. E o que se ouviu nesta conferência, que bem registámos, dá para animar um pouco até os mais pessimistas. Os presentes falaram das suas empresas com satisfação e confiança, revelando valores de produção, exportação e resultados financeiros salientes. No todo, afirmou-se, ainda, que o Alto Minho tem saldo positivo nas exportações.

Tal situação, todavia, tem poucos reflexos visíveis no dinamismo económico e social do Alto Minho, particularmente em Viana. Salvo melhor opinião, o que ressalta, então, é que as empresas viverão para si próprias, muito com a preocupação única do lucro, esquecendo que qualquer entidade empresarial, para além de pugnar por ser rentável para poder sustentar os custos de produção e gerar mais valias, deve ter um enquadramento positivo na sociedade, a começar por pagar com justiça o valor do trabalho, e afirmar-se como pessoa com preocupações sociais, contribuindo, até onde lhe for possível, para a evolução do meio em que se insere. Um espaço morto, disso não passa, apesar de lá ter alguém que produz riqueza.

Nas décadas de 1950/60, Viana, ao nível de grandes empresas, tinha apenas a Empresa de Pesca e os Estaleiros Navais. Contudo, apesar de laborarem em áreas pouco produtivas, souberam ligar-se à região de forma marcante, enquadrando-se num contexto social que deixou marcas para a vida; e que a história jamais escamoteará. Os ENVC, que só sabiam construir navios de qualidade, chegaram ao ponto de tomar conta do Hotel de Santa Luzia, gerindo-o apenas com a preocupação de ajudar a cidade, não deixando que se perdesse uma unidade hoteleira emblemática. Quisemos prestar um serviço à cidade de Viana, pois só assim, isto é, sem intuitos lucrativos, será possível explorar um hotel como o de Santa Luzia. Assim escrevia a Administração dos Estaleiros no seu Relatório e Contas de 1955.

Não é por acaso que os ENVC e a EPV ainda hoje perduram na memória de muitos vianenses. Foram empresas que interiorizaram o princípio de que, abraçar causas e valorizar socialmente o espaço em que laboravam, as categorizava como entidades de grandeza superior. Particularmente, de alma maior. 

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