Ensino e a pandemia

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Nos últimos meses, todos os países se têm dedicado a confrontar na linha da frente, da melhor forma possível, a pandemia que enfrentamos, e esta, para além de consequências económicas, veio colocar à luz do dia uma série de desigualdades delicadas e de métodos já desatualizados do nosso país.

Analisando o panorama do ensino português, já variadíssimas vezes elogiado, nomeadamente no estrangeiro, pela sua qualidade e excelente preparação para aquilo a que chamamos “mundo do trabalho”, é incontestável a qualidade do corpo integrante do ensino português. Por outro lado, são cada vez mais questionáveis os métodos de avaliação e de acesso ao ensino superior e, com o surgimento desta pandemia, debatemo-nos agora com uma série de parâmetros que podemos caracterizar como antiquados e não mais funcionais no nosso sistema de ensino. Exemplos de tal são: a desigualdade social e económica a nível do ensino que o isolamento veio marcar; e o peso exorbitante que os exames têm no sistema de ensino secundário.

Tendo em conta a crescente importância que a tecnologia tem na vida do ser humano e, especificamente, no ensino e na ligação professor-aluno, não será, no mínimo, confuso, a existência de alunos que não possuem meios de, neste momento, assistir a aulas não presenciais via online? Com a chegada deste vírus conclui-se que são milhares os alunos que não detêm acesso garantido a todas as ferramentas que lhe garantem acesso ao ensino, como computadores ou ligação à internet a partir da sua própria habitação, seja em casos particulares (como o confinamento em que nos encontramos) como em situações do dia-a-dia. Sendo o ensino/conhecimento a base da construção de um ser humano culto e completo, não será crucial, para todos os estudantes, o fornecimento de todos os meios para alcançar esse fim?

No entanto, a meu ver, é de louvar as medidas tomadas pelo ministério de educação e pelas escolas em ordem de garantir o acesso a todas os utensílios necessários para garantir que todos os alunos têm acesso a aulas e material online, diminuindo, assim, as discrepâncias sociais em Portugal, já conhecidas antes do surgimento deste vírus, mas talvez pouco enfatizadas.

Outra questão a apontar passa pelo peso e relevância que os exames nacionais, que pouco mostram do conhecimento integral do aluno, possuem no acesso ao ensino superior dos alunos do secundário. Sendo, este ano, extremamente desaconselhável, por questões de segurança, a realização destes, tendo-se decidido que os alunos apenas realizarão as provas necessárias para concorrer ao ensino superior, não interferindo estas para a nota interna, deparamo-nos com o problema “sem exames não existe meio de entrar na universidade” visto que o sistema de ensino ainda possui uma dependência extrema destes. Assim, é ainda viável recorrer a esta forma de avaliação que, corretamente, se pauta por ser imparcial e igual para todos mas que, por outro lado, devido à sua tipologia, pouco mostram do aluno para além da sua capacidade de memorização? Será que o acesso ao ensino superior deve ainda limitar-se a um exame de duas horas e meia que, com exceção deste ano, interfere na nota interna do aluno?

Assim, a pandemia Covid-19 atingiu todo o mundo agressivamente e, certamente, trará consequências avassaladoras tanto economicamente como socialmente. Podemos dizer, sem medo de proferir erro, que o mundo nunca mais irá ser o mesmo, tal como a história nos mostra em todas as pós-epidemias. No entanto, é notório, também, que esta destapou várias melhorias nas quais Portugal se deve dedicar, sendo as que, anteriormente, referi, apenas alguns dos parâmetros em que o país pode progredir.

Ana Branco

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