Episódios da minha infância

Leandro Matos
Leandro Matos

Ainda muito pequenos, eu e meus irmãos (éramos quatro rapazes), em meados dos anos cinquenta, ajudávamos à missa na capela de Nª Sª das Neves, nas Neves, em Mujães.
A minha mãe tinha um tio cónego de nome Alípio Quintas Neves, que foi sempre professor de matemática e físico-químicas, no seminário de Nª Sª da Conceição, na rua Sta. Margarida, em Braga. Foi também presidente da Cáritas e de outras instituições religiosas naquela cidade. Era irmão do conhecido etnólogo e arqueólogo Leandro Quintas Neves (*), meu tio e padrinho, com direito busto que se ostenta em sua memória no Largo das Neves, a poucos metros da capela. Seis décadas e meia separam estes acontecimentos. Muito tempo passado para relembrar episódios de infância. Como tudo passou tão depressa!
Em tempo de férias, durante vários anos, estávamos sujeitos a levantar cedo por ocasião das férias grandes, de Natal, da Páscoa e pelo Carnaval.
Nos primeiros anos, eu, era o mais velho de todos, depois o meu irmão do meio, depois outro até ao último, o “benjamim”, com diferença de 13 anos. Todos estávamos sujeitos a ter que ajudar o Tio na celebração da missa diária que tinha lugar por volta das 07 horas da manhã.
Empreendia quotidianamente todo o caminho, a pé, desde a residência na “Quinta do Mestre Manel”, no “Caniço” (lugarejo da freguesia de Barroselas), até à Capela de Nª Sª das Neves.
Era sempre uma inquietação lá em casa. Nenhum de nós, irmãos, gostava de se levantar tão cedo. Em casa, entendia-se que tinha que ser. Fomos educados assim. Sempre fiéis às recomendações da nossa progenitora para com o seu tio cónego e padrinho. Até que entre nós resolvemos revezar-nos.
Já com os meus 15 anos era ainda praticamente uma obrigatoriedade. Pretendia, entretanto, que fossem os meus irmãos que eram mais novos a cuidar da tarefa. Também, aos domingos, estávamos de prevenção, um ou outro para ajudar por volta das 11 horas, à missa dominical que tinha lugar na mesma capela e era celebrada por um padre passionistas. Este era transportado por um taxista de Barroselas que ali aguardava até ao fim da missa.
Meu tio, Alípio Afonso dos Santos, irmão de minha mãe, falecido num grave acidente em Cernache (a sul de Coimbra) quando transportava clientes vindos de Fátima, era o tesoureiro da fabriqueira e encarregado de fazer todos os pagamentos inerentes às deslocações. A nós, “ajudantes”, tocava-nos 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos). Isto nos finais dos anos cinquenta. Que bom que era!
O tio cónego faleceu já com alguma idade, com a doença da diabetes, em Braga, quando alguns de nós já éramos adultos.
Foi ele que ainda celebrou alguns dos nossos casamentos, o meu e de meus irmãos, na igreja da freguesia de Mujães. O meu aconteceu aos 25 anos de idade.
Hoje, ambos os tios, o cónego e o arqueólogo, dispõem de ruas em seu nome na freguesia de Mujães, onde nasceram e residiram.

(*) – N.R. – L. Q. Neves foi durante alguns anos nosso colaborador, pelo que deve ter boas memórias publicadas neste periódico nos anos 50 do século passado.

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