D. João Lavrador, Bispo da Diocese de Viana do Castelo, convidou a imprensa local para uma conversa no Paço Episcopal, seguida de almoço. Com todos os bispos que aqui cumpriram funções, infelizmente falecidos, sempre as relações com a imprensa se pautaram pela cordialidade e pela elegância de trato. Veja-se o caso de D. Armindo Lopes Coelho (1931/2010), bispo em Viana no período 1982/1997, que estabeleceu uma relação de grande proximidade com os trabalhadores dos Estaleiros Navais, tendo assumido, para a revista destes, a responsabilidade de escrever em cada ano a sua mensagem natalícia, escrito no qual deixava perpassar sabedoria e brio intelectual. Agora, D. João Lavrador procura um aprofundamento desta relação profícua com a sociedade vianense e, neste caso, concreto com a imprensa regional.
Também lá estivemos, e não podemos deixar de considerar que se tratou de um encontro de trabalho, assente em relacionamento amistoso e franco. D. João Lavrador procurou ser apenas mais um interveniente no grupo de debate. Estando no seu espaço, poderia ter assumido algum protagonismo, mas tal não aconteceu. A igualdade entre pessoas, que o mundo católico reivindica esteve patente neste encontro.
Depois, também não procurou ser redutor nos diálogos, evitando o tabu em relação a qualquer assunto que lhe foi colocado. Questões como o celibato para os padres, a pedofilia no seio da Igreja, a unidade do mundo católico em redor do Papa Francisco, a guerra na Ucrânia, originada pela invasão russa, e tantos outros assuntos estiveram em consideração, tendo evidenciado que tudo o que vai acontecendo são processos naturais, resultantes da forma diferente de pensar de cada homem e cada mulher. E na Igreja, como em qualquer instituição, mesmo defendendo-se culturas de boas práticas, nem sempre é fácil consegui-lo.
Não são, todavia, os problemas e a visão do catolicismo que, na nossa ótica, foram prevalecentes neste encontro com D. João Lavrador. Deve dizer-se que os problemas de uma instituição, para mais com a importância da Igreja, com forte intervenção na sociedade, são, um pouco, problemas de todos. Ora, estes debates valem mais pelas barreiras que se vão derrubando na aproximação de entidades de vários pensamentos e práticas. As sociedades constroem-se, aprofundam-se e melhoram-se na base de abordagens desprendidas e francas, sem que ninguém se apresente como amo da verdade. Neste encontro, à nossa pequena escala, deram-se passos nesse sentido.