Há poetas que choram
e palhaços que riem,
há nababos que flutuam
na abastança que têm.
Há ventres dilatados,
olhos desorbitados,
rostos angustiados
e tanta fome também.
Há glórias cantadas
e tradições ocultas,
há mortes abruptas
e vozes sufocadas.
Há crianças sequiosas
noite e dia à procura
de um pouco da água impura
das correntes raivosas.
Há plebeus e há nobres
e os sem coração.
Há pobres muito pobres
que não estendem a mão.
E neste turbilhão
a gente olha e passa
e finge não ver a desgraça
da miséria em progressão.
Há os que se enfastiam
de todo o seu bem
e há crianças que esperam
o que a mãe já não tem.
E neste indiferente mundo
de saliências ingratas
meus olhos são cascatas
que brotam pesar profundo
Eugénio Monteverde