Falando de cinema: Mr. Jones

Alcino Pereira
Alcino Pereira

Esta produção de 1993, que recomendo, apresenta como cabeça de cartaz, o conceituado ator Norte Americano Richard Gere, no papel de um homem bem-parecido, chamado Jones, que por sinal evidencia uma aparência física e anímica, supostamente salutar. Mas sem que se aperceba disso, é portador de uma doença grave, apelidada de distúrbio bipolar maníaco depressivo. 

Os primeiros sinais da existência de tal situação são percetíveis logo no introito do filme, designadamente quando Jones arranja trabalho numa obra, em lides de telhado, só que, ao iniciar o seu ofício, abstrai-se completamente, fixando-se nos aviões que surgem entre o céu, avivando o seu delírio, que o faz querer voar, caminhando lentamente para o precipício, salvo, no limite, por um dos trabalhadores.  Ao ser transportado para o hospital, Jones é erradamente diagnosticado pelo médico de turno, que lhe atribuiu um prognóstico de esquizofrenia, receitando-lhe uns calmantes e, por conseguinte, concedendo-lhe alta hospitalar. No entanto, a psiquiatra Elizabeth é contrária a essa decisão, suscitando claras reticências. 

Deixando o hospital, nada melindrado com o episódio rocambolesco, Jones calcorreia as ruas, com boa disposição, exibindo o seu estendal sedutor, logrando encantar a funcionária do banco, onde armazena as suas parcas poupanças, desafiando a jovem para uma noite divertida.    

Essa moça, rendida à efusividade de Jones, entrega-se aos devaneios deste, acicatando, sem querer, a excitação de Jones, que acaba mal, já que, inesperadamente, este sobe para cima de um palco onde decorria um concerto sobre Beethoven, com intenções de dirigir a orquestra, para pasmo de todos os presentes nesse espetáculo.

Dando entrada de urgência no mesmo Hospital, devido aos seus desmandos, é visível em Jones um histrionismo descontrolado, preso por essa razão a uma camisa de forças, só que desta vez é atendido por Elizabeth, afirmando esta de modo veemente que este padece de um transtorno bipolar em fase crítica e, justamente por isso, deve ser internado numa ala psiquiátrica por tempo indeterminado. Refeito, após assistência atempada, Jones recusa liminarmente o internamento, mas Elizabeth diante da patologia flagrante deste, recorre aos tribunais, justificando a sua detenção, alegando que o doente pode estar prestes a passar da euforia para uma tristeza erosiva, com o risco sério de cometer suicídio.

Apesar do Juiz dar provimento aos argumentos coreográficos de Jones, as previsões de Elizabeth acabam por se concretizar, pois é avisada por Howard que Jones manifesta subitamente uma amargura devastadora, rendendo-se este posteriormente aos cuidados de Elizabeth, não aguentando a perpetuação deste estado de declínio. 

Já inserido na instituição, Jones vai melhorando ligeiramente, numa relação privilegiada com Elizabeth, com esse cotejo entre os dois a atingir picos e oscilações, numa terapêutica que induz crispação, contrariedades e emoção, traduzindo-se em procedimentos complexos no combate à doença.  

Respaldado pela interpretação categórica de Richard Gere, o filme chama a atenção para a doença bipolar, que não deve ser contemporizada nem estigmatizada, principalmente no seguimento de ações desproporcionais, sendo altamente prejudicial para o paciente e o meio envolvente, se ninguém agir de forma acertada e perentória. 

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