Recentemente, uma avaria no veículo que conduzia obrigou-me a pedir apoio a uma companhia de seguros. Fui atendido por um autómato que se apresentou como sendo a “Maria”. E, apesar de saber que estava a falar para um “boneco”, a comunicação foi fácil e muito eficiente.
No século passado, “falar para o boneco” significava que, na comunicação entre seres humanos, os recetores das mensagens estavam fisicamente ausentes ou não se mostravam interessados em recebê-las. Mas, hoje, a comunicação e o trabalho fazem-se, cada vez mais, por autómatos eficientes, graças ao desenvolvimento da inteligência artificial (IA).
Apesar de logo nos primeiros anos da década de 70, no cumprimento do serviço militar obrigatório, em Luanda, ter iniciado a aprendizagem de uma linguagem de programação para computadores e de ter frequentado um dos primeiros mestrados de informática de gestão, os avanços tecnológicos da cibernética, nos últimos 50 anos, fizeram de mim quase um iletrado em matéria de IA.
Mesmo assim, como tantos outros, interrogo-me sobre quantos milhares de trabalhadores administrativos serão substituídos, nos próximos anos, por ferramentas de IA e automação, como são os simuladores de conversa (chatbots); fico preocupado com a possibilidade de utilização destas ferramentas para manipular a informação e as eleições, aviltando democracias e consolidando regimes autocráticos; e receio que elas fiquem sem controlo, podendo vir a ser mais “inteligentes” do que os seres humanos, sobrepondo-se a estes.
Há quem considere que a IA generativa é uma ameaça para a humanidade cujo combate é ainda mais urgente do que o das alterações climáticas. Mas a massificação das ferramentas com IA continuará. Por isso, devemos melhorar o conhecimento e o sentido crítico sobre elas, para minimizar as suas más utilizações e dissipar receios e alarmismos que todos esperamos sejam infundados!
Nota: Nenhum dos textos desta coluna ou parte deles é escrito com o recurso a chatbots.
