Folhas soltas

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A. Lobo de Carvalho

1.FEIOS, PORCOS E MAUS. Para além de ser o título de um filme realizado há muitos anos, são também adjectivos para classificar um bando de indivíduos que se apelidam de professores e que, empunhando cartazes monstruosos e indignos num país civilizado, se juntaram na deplorável manifestação contra o Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, aquando da celebração do Dia de Portugal no passado dia 10 do corrente mês de Junho, na cidade do Peso da Régua. Sendo uma celebração da união dos portugueses espalhados pelo mundo, foi com forte revolta interior que assistimos pelas televisões a um extremismo desta dimensão. 

Com professores desta estirpe a ensinar os nossos filhos e netos, quem pode acreditar na benfeitoria das escolas públicas onde as crianças iniciam os seus primeiros passos na aprendizagem da cultura e na construção da cidadania? Como se pode confiar a educação das nossas crianças e jovens a professores intolerantes, xenófobos e vingativos? São estes os valores que os pais desejam para os seus filhos? Isto é uma vergonha para a classe dos professores no seu conjunto, embora saibamos que uma larga maioria na se revê neste tipo de comportamentos.

O ensino em Portugal navega sempre em mar revolto, ou seja, em permanente instabilidade, porque os sindicatos, dirigidos por extremistas de esquerda, querem que todos os interesses dos seus associados sejam satisfeitos, arrogando-se numa classe elitista acima de todas as outras. Não existe nenhuma carreira profissional que não se depare com obstáculos de progressão, e os professores são uma classe como qualquer outra, não havendo lógica para merecer um tratamento especial e diferenciado. Nas outras carreiras do Estado há milhares de funcionários com direitos, deveres e sonhos, que também são transferidos, que sofrem, esperam e desesperam, e não recorrem a meios ofensivos desta natureza para reclamarem justiça. Com este público exemplo de intolerância, de ódio e de selvajaria contra membros do Governo de Portugal, que merecem respeito    como o são o Primeiro-Ministro e o Ministro da Educação  -,   os professores arriscam-se a ver as suas reivindicações remetidas para as calendas gregas, porque no país existem outros problemas mais urgentes para solucionar. E não venham as oposições colarem-se a esta situação e tentarem passar uma esponja sobre o sucedido, utilizando os mais esfarrapados argumentos, porque se um dia forem governo acontece-lhes o mesmo ou pior. Só lamento que a classe professoral seja toda ela metida no mesmo saco perante a opinião pública, quando sabemos que há verdadeiros mestres e educadores que não se identificam minimamente com o sucedido e a quem presto a minha homenagem.

Vem agora o líder da FENPROF, travestido de cordeirinho, apelar ao Ministro da Educação para negociações, quando todos sabemos que tem sido um incendiário permanente, pondo em risco a validação do aproveitamento escolar de um ano lectivo de milhares e milhares de estudantes, com greves e mais greves, secundado pelo líder do STOP, outro incendiário sem escrúpulos. Bem faz o Ministro limitar-lhes as pretensões, mantendo a rédea curta.

2.SERVIÇOS DE INFORMAÇÕES. Reina uma grande ignorância na generalidade dos políticos, comentadores e jornalistas de referência, nas TV’s, ao confundirem “Informação” com “Informações”, e isso denota grande incultura que não deveria existir a estes níveis. Não vou aqui detalhar as diferenças, até porque já o fiz em passado recente neste mesmo jornal, mas tenho de dizer que quando se fala de um “serviço de informação”, como se ouve diariamente nas televisões, tal não pode referir-se a um Serviço Secreto, mas sim, e só, àquilo a que chamaremos jornalismo corrente, informação pública ou mesmo relações públicas. Contudo, quando verbalizamos “Serviço de Informações” ou “Serviços de Informações” estamos a referir-nos a um ou mais Serviços Secretos de Segurança do Estado, ou Secretas, como vulgarmente se ouve dizer, porque o termo “Informações” é o mesmo que intelligence, ou seja, recolha secreta de informações que visam a segurança do Estado. Pelo que, quando queremos referir-nos às “Secretas”, a forma correcta de nos expressarmos é “Serviço de Informações de Segurança (SIS)” e “Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED)”. Confundir os conceitos é não falar com propriedade, constituindo uma clamorosa ignorância que reina em meios onde nunca deveria existir.

Dado este esclarecimento, reitero que não só não concordo, como também condeno veementemente, o que se está a passar ao nível de alguns partidos políticos quanto à intenção de formalizar uma comissão de inquérito na AR para investigar a acção do SIS no caso Galamba/TAP. O SIS não pode e não deve ser tratado como um instrumento de arremesso político, nem ser partidarizado, porque é uma Instituição fundamental para a segurança do Estado de Direito. Valorizar uma atitude ocorrida em circunstâncias excepcionais, para expor o Serviço e daí retirar dividendos políticos, sugere um deficit de argumentos racionais e um populismo barato. 

Estranhamente, um líder partidário, que poderá vir a ser Primeiro-Ministro, parece ser grande defensor de tal comissão de inquérito, mas não deveria embarcar nessa viagem porque um dia poderá vir a deparar-se com situações similares. A ameaça, pelo mesmo líder, da retirada de confiança às Direcções do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e do Serviço de Informações de Segurança (SIS) não é procedimento a seguir, nem é aconselhável por todos os motivos, considerando que a confiança pessoal na interacção necessária com Serviços congéneres de outros países, é um valor que não se constrói da noite para o dia. É, pois, necessária estabilidade no seu funcionamento, e as personalidades que estão à frente são portadoras de vastíssima experiência e competência nesta matéria, como já referi em artigo anterior neste jornal.

O país precisa de políticos e governantes lúcidos, que não percam tempo com questões ampliadas na sua importância e que invistam toda a sua energia cerebral na resolução dos muitos problemas que afectam o país. 

Não pensava ter de voltar tão cedo a estes dois assuntos, mas a evolução da situação social e política justifica-o. 

Nota: o autor não segue o novo acordo ortográfico

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