“Fui à escola, mas aprendi muito pouco”

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Natacha Cabral

aros leitores, neste momento em que vos escrevo encontro-me com 35 anos, o que significa que fiz a escola primária e básica entre o ano de 1991 e 2004.

O que mudou desde então? Nada.

Continuo a ouvir as mesmas queixas gerais, sendo a mais predominante a falta de interesse dos alunos em lá estarem. Será apenas uma coincidência? Ou um motivo predominante  para nos obrigar a parar e refletir sobre as mudanças que já deveriam ter acontecido há muito tempo ?

Não tenho pretensões de escrever um artigo para apontar o dedo aos culpados e aos argumentos de uns contra os outros, mas de questionar o porquê de nada ser feito no sentido da diferença e da evolução. 

Todo o país é um lugar de tradições, de práticas costumizadas, e tudo que implica mudança, implica dor de cabeça. Mas a verdade é uma: quem não vê na mudança algo positivo, condena toda uma vida e toda uma geração. 

Para a grande maioria, a escola é percepcionada como um local de desenvoltura do intelecto, sobrando muito pouco espaço para trabalhar questões fundamentais como a criatividade, a liberdade, a expansão e a prática de valores sociais. O que acontece, é que, ao passarmos cerca de 10 anos a insistir no mesmo, acabamos por criar jovens com um processo de pensamento limitado, maturidade emocional perto do zero e um desejo de competitividade cada vez maior. 

A escola deveria ser, antes demais, um espaço de aceitação e do cultivo da diferença. Deveria ser o lugar que ajudasse as crianças e os jovens a descobrir as suas vocações e responsabilidades e não apenas encher-lhes as mentes com factos e conhecimentos técnicos, dando-lhes muito pouco espaço para pensar ou sentir por si mesmos. 

Na crónica anterior falei na importância de destinguir entre intelecto, inteligência e sabedoria, e infelizmente, aquilo que vemos são jovens intelectualmente muito capazes, mas emocionalmente muito vazios. 

Reina na nossa sociedade um desejo cada vez mais ardente de ter sucesso, de sermos “alguém”,  mas há um perigo à espreita neste tipo de ambição superficial: primeiro porque esta sede de sucesso instiga nos humanos a ideia de competitividade, o que provoca no mundo a evidência de estarmos constantemente em luta com alguém ; e em segundo, onde mora o desejo do sucesso, mora o medo do fracasso, e o medo é, e continuará a ser, o pior inimigo do sociedade. 

E é neste regime que ensinamos os nossos futuros contemporâneos. Num regime de medo, de limitação, de imposição. E o mais grave de tudo isto é que, poucos entendem que uma mente condicionada é uma mente que jamais será capaz de uma ação integrada e íntegra, pois só onde mora o autoconhecimento e a percepção dos nossos condicionamentos e das nossas valências, é que existe evolução e expansão. 

É assim que me custa entender, porquê ao fim de tantos anos e de outros exemplos vigentes, não sermos capazes de adaptar os nossos modelos de ensino já há muito caducados, pois isto cria, não só uma frustração nos alunos que não gostam, como dos professores que sofrem por se sentirem impotentes.

Está na hora. Somos todos parte integrante deste mundo, e se queremos a melhoria do sistema e da sociedade em si, tem de haver a coragem de fazer algo diferente, com pés e cabeça.

Pode até ser uma coisa que não convenha, afinal, criar seres pensantes e livres poderá ser uma séria ameaça aos olhos de muitos.  Todavia, e desculpem a minha sinceridade, ameaça é continuar a alimentar o crescimento de jovens e adultos imaturos, carregados de conflito interno que contribuem para a miséria e a estagnação do mundo.

Daí que pergunte: queremos mesmo a mudança ou não convém muito?

Fica a pergunta final para um cheque bi~lionário.

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