Fundição de S. Domingos (1870): A arte do ferro em Viana do Castelo

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A cidade de Viana do Castelo presenteia-nos amiúde com as suas riquezas ocultas e que nos envolvem aqui e ali, sem que, todavia, nos apercebamos da sua presença, fruto de uma vida atribulada que não nos permite sequer vislumbrar os caminhos que calcorreamos frequentemente. Porém, quando a vida o permite, descemos à nossa essência terráquea, apartando a displicência de um tempo cego que nos absorve e, de vez em quando, de olhar sereno, enxergamos as riquezas arquitetónicas que espreitam e sorriem para nós. Hoje trazemos a lume nesta breve crónica a arte do ferro na cidade de Viana do Castelo, cuja riqueza se torna imensurável, dado que a mesma se pauta pelos seus magníficos detalhes, pela sua exímia técnica, pela durabilidade e beleza excecional. A esse respeito, evocámos a Fundição de S. Domingos, inaugurada em 1870, no Largo de S. Domingos e que, para além de se instalar no referido Largo, também assentou arraiais na Rua Góis Pinto. A firma denominava-se de “Serralheria Mechanica” de Antão José Dias.

Ali se fabricavam grades em ferro, portões, varandas e outros apetrechos. A mesma era servida de bons tornos mecânicos, máquinas elétricas de perfuração e outros maquinismos, pelo que, mais tarde, se dedicaria também à atividade de fundição de ferro e outros metais. Além disso, a firma Antão José Dias teve um papel preponderante na continuidade da sua arte, na medida em que serviu de escola para muitos dos seus colaboradores. Em 1897 a firma vianense foi premiada na Exposição Industrial Portuguesa, que decorreu no Palácio de Crystal Portuense, na cidade do Porto, demonstrando de forma cabal todo o seu potencial. Viana do Castelo conta com uma longa história das indústrias do ferro, sobretudo no Lugar de Abelheira. A atividade foi-se desenvolvendo ao longo dos séculos, em particular, ao longo de Oitocentos, período esse em que de Viana do Castelo se exportavam ferragens, panos de linho, chapéus, linhas e outras manufaturas para o Brasil. Não admira, portanto, que indústrias que recorriam ao carvão para laborar fossem implantadas nos arrabaldes de vilas e cidades, isto por questões de salubridade e saúde pública. Hodiernamente a arte do ferro que encontramos em muitas casas e edifícios públicos cinge-se a um tempo, um tempo que muito dista do presente, uma vez que a nossa modernidade dispensou esse paradigma, dando lugar a construções mais pobres arquitetonicamente, de linhas mais sóbrias e minimalistas. Todavia, urge evocar esse passado de uma riqueza singular, que emanava de mesteres familiares que passavam de geração em geração e que, nas brumas do tempo, praticamente desapareceram. Trata-se de perpetuar e divulgar um património industrial digno de ser revisitado, valorizado e acarinhado, não permitindo que este caia nas calendas gregas da modernidade.

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