Há 3 coisas na vida

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Aníbal Alcino

Um dia destes, ao passar na Rua da Bandeira, em Viana do Castelo, pela casa comercial de venda de discos musicais, sem querer, fui apanhado por uma lindíssima melodia, muito simples, que me fez lembrar, com saudades, fases da minha juventude estudantil, aquando estudava Belas Artes na cidade do Porto.
Essa melodia, talvez de origem mexicana, não sei bem, acompanhada à viola e violinos, diz:

“Tres cosas hay en la vida
Salud, dinero y amor
Y el que tenga esas tres cosas
Que le de gracias a Dios!”

Com essa estupenda e melodiosa música, com conceitos de uma “singeleza indiscutível” (perdoem o português), fui-me aproximando do jardim da cidade e, junto do café “Girassol”, sentei-me num banquinho de madeira, a contemplar, sossegadamente, o rio Lima; a sua ponte metálica; a sua paisagem envolvente, onde não verifico nada de melhor em qualquer cidade do mundo: monte, serra, rio, mar, praias, bons restaurantes, e um clima tão ameno que nos invade o espírito com uma calma indescritível. Como é bom viver em Viana do Castelo, e suas gentes!

Lembrei-me, então, de quando obtive uma bolsa de estudo, concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian, para me deslocar a Espanha, ao Museu do Prado, a fim de estudar, sobretudo, alguns dos seus mais geniais pintores, como sejam por exemplo: Velasquez, Goya e Greco.

Nesse tempo e nessa altura, recordo-me de, com a minha mulher, Helena, sentar-me num dos bancos do jardim Cibeles, para desfrutar, como aqui em Viana, a paisagem citadina de Madrid, muito mais movimentada do que a nossa, claro!

Nessa ocasião, um homem que me pareceu um funcionário camarário, com farda de cotim cinzento e boné de pala, abeirou-se de nós, e perguntou:
– Já compraram o bilhetinho para estarem aqui sentados o tempo que quiserem?!…
– Não! Quanto custa?!
– Um duro!
– Paga-se, então, para estar aqui?
– Sim! O dinheiro destas vendas, ou antes, esta “verba”, serve para tratar das ervas, dos canteiros, das flores, etc..
O caso, também curioso, é que, tendo eu necessidade urgente de ir a um sanitário, entrei num café e lá esbarrei com uma mulherzinha que me estendeu uma toalha e sabonete mas não sem me cobrar, suponho, também, um duro.

Em Espanha estudam como tirar partido dos “turistas”…
Voltando de novo a Viana, e percorrendo as páginas de um jornal diário, lendo o que vai de desgraças por esse mundo fora, com fugitivos de quase todo o norte de África, e ainda das milhentas pessoas que vão dormindo nos passeios das cidades; da expansão do comércio das drogas, e das pessoas sem abrigo, tudo isto em contraste com o clima, a paz, a sua fauna, a sua flora, o sossego desta lindíssima cidade de Viana, bem como do conjunto de todas as vilas que compõem o Alto Minho, como: Âncora, Caminha, Monção, Melgaço, Ponte de Lima, Arcos, etc., etc., vem-me à memória, docemente, semi-dormindo, o que ouço, ao longe, na discoteca de Viana:

“Tres cosas hay en la vida
Salud, dinero y amor
Y el que tenga esas tres cosas
Que le de gracias a Dios!”

Por hoje, fica assim.

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