Campos Monteiro (1876-1933), no romance “Miss Esfinge” relata várias visitas médicas de meu visavô a Josefina da Nóbrega (Miss Esfinge), residente em São João de Arga e os contactos com Camilo Castelo Branco, romancista, vizinho da doente.
Campos Monteiro foi escritor, jornalista, médico e político, natural de Torre de Moncorvo, que concluiu os estudos liceais na cidade de Viana do Castelo e em jovem escreveu para vários jornais, incluindo “A Aurora do Lima”. Aliás, também Camilo Castelo Branco (1826-1890) desempenhou funções neste célebre periódico vianense mais antigo de Portugal Continental (1855), como redator e colaborador, chegando a ser seu diretor em 1857, durante 55 dias.
No 1º centenário do liceu (3 a 5 de outubro de 1953) houve uma cerimónia da inauguração do retrato do 1º Reitor na sala do Conselho, que foi solicitado a meu Pai pelo Dr. Mendes Carneiro, tendo sido minha irmã Marília, sua bisneta, quem retirou a Bandeira Nacional de sobre esse retrato, cujo ato foi coroado de palmas, depois do então reitor Dr. Henrique Francisco dos Santos ter proferido algumas palavras de evocação biográfica. No livro comemorativo do centenário consta esta notícia a páginas 77 e 106.
Numa das suas visitas aos doentes, o Dr. Albano José teve uma queda grave de um cavalo, do que lhe veio a causar a morte em 31 de dezembro de 1875, após doença prolongada, falecendo na sua casa na rua de São Sebastião da freguesia de Santa Maria Maior de Viana do Castelo. O jornal “A Aurora do Lima” de 3 janeiro de 1876, noticia o seu falecimento, referindo que o “reitor do lyceu e delegado de saúde do mesmo distrito … era facultativo distinto e geralmente muito estimado”.
A direção do “liceu” (Escola Secundária Pluricurricular de Santa Maria Maior) convidou-me para fazer uma conferência no final de uma semana festiva daquele estabelecimento de ensino, que decorreu entre 25 de fevereiro e 2 de março de 2009.
Foi com satisfação que aceitei o convite e a conferência realizou-se na biblioteca sob o tema “Desenvolvimento das Organizações”. Após o seu términus, foram-me dirigidas palavras simpáticas e oferecido uma fotografia do 1º reitor do liceu, que a seguir reproduzo.
3 – O espírito académico
A finalizar este artigo faço alusão ao espírito académico. O período de estudos secundários é de 7 ou 8 anos, ou seja, o mais extenso período de escolaridade, que dura quase o dobro do “ensino primário” ou da “universidade”, em que os estudantes estão numa idade de mudança das suas vidas, muitas vezes para o início das suas atividades profissionais ou para a sequência de formação superior.
Quantas gerações de estudantes passaram pelo Liceu e nele aprenderam os conhecimentos para entrar nas universidades ou na vida profissional! Quantos homens e mulheres consolidaram nos bancos do Liceu os alicerces das suas carreiras, dignificando o Liceu pela sua competência! O convívio entre os estudantes nestas idades cimenta amizades que permanecem por toda a vida. Anos mais tarde, persistem as memórias nostálgicas dos colegas, professores, funcionários (o caso do Sr. Vítor Miguéis, por exemplo), livros escolares, etc.
A Associação dos Antigos Estudantes de Viana (AAEV) tem organizado uma ceia no 1º de dezembro, com prévia concentração na Praça da República, romagem ao cemitério e Missa na Sé. O ano passado decidiu organizar um almoço em vez da costumada ceia, devido ao receio dos menos jovens adoecerem por causa do frio à noite. Estiveram presentes mais de 60 pessoas.
Alguns antigos estudantes, em que o autor se inclui, tem vindo a organizar um almoço de confraternização no 1.º sábado do mês de junho no Hotel Axis Viana, numa época do ano mais quente, para dar oportunidade aos antigos estudantes provetos de também confraternizarem, o que ajuda a repor energias e é favorável à saúde emocional de todos.
Estes almoços começaram por uma presença de cerca de 15 antigos estudantes e o ano passado foi superior a 30, com a satisfação de também terem comparecido dois antigos alunos e atuais professores da Escola Secundária de Santa Maria Maior. Dois jovens alunos daquele estabelecimento de ensino proporcionaram a todos os convivas uma brilhante interpretação musical de alguns números de harpa, tocada por Ana Rita Beiral, e de violino, tocado por Ivo Mesquita, que muito agradaram a todos. Este ano, devido à pandemia do coronavírus, que tem causado milhares de mortos em todo o mundo, não foi possível realizar esta confraternização, mas temos esperança de poder fazê-lo no próximo ano.
Os Estatutos da AAEV, no artigo 4º, preveem a realização de atividades de caráter cultural, social ou recreativo que visem manter, acarinhar e promover o espírito académico entre todos os seus sócios e demais estudantes de Viana do Castelo. Esperamos que a AAEV passe a promover as duas confraternizações anuais, uma em junho e outra em dezembro, além de outras que eventualmente considere de interesse, por estar melhor preparada para tal, por dispor de órgãos que se vão renovando, eleitos pelos seus associados.
BIBLIOGRAFIA
PRINCIPAL:
– O Primeiro Centenário do Liceu Nacional de Viana do Castelo – Livro Comemorativo, 3 a 5 de Outubro 1953;
– Liceus de Portugal. Histórias, Arquivos e Memórias- Coordenação: António Nóvoa e Ana Teresa Santa-Clara, Edições Asa, 2003;
– LIMA, Rui de Abreu – Aqueles Cinco Anos, Edição do Autor, 2003;
– MONTEIRO, Campos – Miss Esfinge, 6ª edição, Editora Educação Nacional, Lda., 1942;
– Arquivo Distrital de Viana do Castelo – pesquisa de documentos manuscritos dos séculos XVIII e XIX;
– Jornal “A Aurora do Lima” – vários números.