Envolvidas numa luz total, ou seja, no “branco” que depois de passar por um prisma se decomporá em “todas as cores do mundo”, o “arco-íris”, avançam resolutas e enigmáticas estas “Raparigas em Fato de Banho” para um futuro imediato… Um futuro que está (e para sempre permanecerá) ali, logo ali, algures entre os limites do quadro e o espaço/tempo que é o nosso, o do espectador/participante em qualquer circunstância.
Do fundo “branco” (= luminoso) emergem semicírculos concêntricos de cores “puras” e contrastantes que, estranhamente ou não, imprimem um movimento perpétuo às figuras e a tudo o que está ao alcance da sua influência.
Em genial síntese de linha e cor se inscrevem estas raparigas em todo o acontecimento, representadas assim sem qualquer sinal distintivo que não seja uma ou outra sugestão de cabelo e de uma luminosa ostentação dos bem personalizados fatos de banho, criações estilizadas de linhas dinâmicas e padrões coloridos da própria artista.
Sónia Delaunay alegrava-se, confidenciando: “Eu desenho como pinto, não estabeleço barreiras.”
Em Desenho, o branco significa a “luz total” e o negro, a “sombra total”. Em Pintura, a luz representa-se como que já decomposta por um prisma, um “arco-íris” (a paleta do artista), ou seja, a soma “de todas as cores do mundo”, e a sombra é concebida como uma série de registos de quebras ou diminuições observáveis na intensidade da luz derramada sobre as coisas (V., p.f., Claude Monet e Impressionismo).
Desde a década de 10 do séc. XX que Sónia Delaunay, com seu marido, Robert Delaunay, desenvolviam aturadas pesquisas no domínio da dinâmica das cores, vindo a sustentar que o contraste harmonioso entre elas (sobretudo quando tomavam formas circulares e concêntricas) se prestavam a figurar movimentos lentos, enquanto que os contrastes discordantes das cores geravam movimentos rápidos; e que a sobreposição, ou melhor, a justaposição destas formas circulares e concêntricas assim alcançadas podia determinar a sua maior ou menor actividade ou dinamismo (V., p.f., Futurismo). Nestas investigações interveio sem fadiga Amadeo de Souza-Cardoso, companheiro e amigo eleito do casal, sobretudo nos anos em que eles residiram em Portugal e em Espanha (Vigo). Assim nasceu o movimento artístico designado Cubismo Lírico, Orfismo ou Cubismo Órfico.
Aos seus tecidos pintados à mão, Sonia Delaunay chamou, expressivamente, “contrastes simultâneos”. Estendeu o conceito à moda como também à decoração, ao design, à criação de guarda-roupa para bailado e teatro e até à indústria automóvel, “personalizando” alguns carros de grandes marcas com os seus “contrastes simultâneos”.
São esses mesmos “contrastes simultâneos” que vestem na perfeição estas “Raparigas em Fato de Banho”, popularizadas em todo o planeta pelos meios atrás descritos e cuja eficácia era absolutamente desconhecida em 1928…
N. R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.
