Quando entrou para o governo, o ex-Ministro das Finanças, Prof. Mário Centeno, era uma pessoa pouco conhecida para comum dos cidadãos e, por isso mesmo, foi olhado com algum cepticismo, tanto mais que o país estava a tentar sair da grave crise em que mergulhara e era imperioso um pulso forte. Porém, no mundo dos economistas, afirmava-se como uma figura prestigiada e de reconhecido mérito, que mereceu a escolha do Dr. António Costa para ser o novo homem forte no Ministério mais importante.
Em boa hora aceitou a responsabilidade governativa, considerando que, com a sua equipa de Secretários de Estado, conseguiu, nestes últimos cinco anos, que o país tivesse evoluído positivamente num rumo em que ninguém antes acreditava, merecendo uma inesperada eleição pelos seus pares europeus para presidente do Euro-Grupo. Recuperou o respeito e a admiração, a economia nacional cresceu, foram repostos rendimentos do trabalho, corrigiram-se graves disfunções sociais, o deficit foi controlado e até conseguiu um superavit neste último ano, coisa nunca antes alcançada em democracia. Não fora a pandemia que se instalou no país no ano em curso e estaríamos economicamente muito mais fortes.
Naturalmente que, como ser humano, o Prof. Mário Centeno possui ambições (quem as não tem?) que passariam, ao que é do domínio público, pelo exercício do cargo de Governador do Banco de Portugal (BdP). Sabendo-se que o governador não pode ser demitido, teria de aguardar-se a vacatura do lugar para poder realizar o sonho, o que está em vias de concretizar-se com o fim do segundo mandato do actual governador, Dr. Carlos Costa.
Seria, pois, o momento oportuno da sua exoneração do governo, mesmo aquando da apresentação do orçamento retificativo na Assembleia da República. Qual o escândalo, tanto mais que o seu Secretário de Estado do Orçamento já estava indigitado para lhe suceder no cargo e dominava por completo essa matéria? Isto é límpido como a água da fonte e só os falhados e invejosos pelo sucesso se lembrariam de conspirar contra o ex-governante, rebuscando argumentos de falsos moralismos e de hipocrisia pura. E para os que o anatemizam devo referir, como me dizia um grande amigo meu já desaparecido, o General Passos de Esmeriz, em política nada é o que aparenta, o que me leva a concluir que esta situação já estava mais que decidida pelo sr. Primeiro Ministro. Há conversas que não têm que vir a público e o que se terá passado entre ambos é para manter na confidencialidade e ponto final. A democracia não pode ter direitos especiais de intrusão.
Neste contexto, o projecto do partido dos animais, que visa aprovar legislação na Assembleia da República como um fato à medida para impedir o Professor Mário Centeno de ocupar a cadeira de governador do BdP, evidencia o mais vil e soez ataque ao carácter de uma pessoa que tanto deu de si ao país e que deseja continuar a servi-lo noutras funções. Gente que nunca fez nada, com que legitimidade ousa ultrajar um ex-governante exemplar com reconhecimento internacional? Não passam de falsos moralistas num partido que está a desfazer-se, porque na verdade nem tem razão de existir.
Para que fique claro, não sou militante do Partido Socialista, mas habituei-me a ver no Prof. Mário Centeno uma pessoa séria e rigorosa, um ministro competente e um político lúcido que granjeou o reconhecimento dos seus pares europeus. E não posso aceitar que uma certa parasitagem política da praça nacional venha agora tentar destruir, moral e profissionalmente, uma personalidade que, tenho a certeza, muito ainda dará ao seu país.
Entender como escândalo que um ex-ministro deixe o seu lugar para ocupar o cargo de governador do BdP é esquecer o passado, quando outros ex-ministros das Finanças tiveram percursos semelhantes, embora com prazos mais diferenciados, mas fizeram-no e nunca houve pruridos. Tinham de aparecer agora os puros da raça lusitana, como se isso viesse trazer algum valor acrescentado ao desenvolvimento do país!
Não conheço o Prof. Mário Centeno, a não ser pelos meios audiovisuais, mas sempre vi nele uma pessoa séria e competente. E como detesto cínicos, invejosos, oportunistas e falsos moralistas, deixo expresso neste texto de opinião a minha repugnância perante esta atitude xenófoba de políticos que se julgam a nata da nata, mas que não passam de autênticos falhados. Desejo ao Prof. Mário Centeno os maiores sucessos pessoais e profissionais nas novas funções que irá assumir em breve.
