Livros que nos tocam

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Gonçalo Fagundes Meira

Voltaire, escritor e filósofo (1694/1778), afirmava que a leitura engrandece a alma”. Nada mais evidente. Quando se lê sabe-se sempre mais, razão para nos tornamos mais confiantes no saber e abraçar melhor a vida. Ler, para quem sente esse prazer, pode dar-nos também estabilidade emocional, particularmente quando nos identificamos com a obra e nos deixamos prender por ela.

Mas a leitura não passa só pelos livros. É consabido que importante é ler, também podendo ser jornais, revistas ou qualquer outra variedade. Nos meios rurais, ao longo de décadas, a leitura disponível para as pessoas era o jornal diário, tantas vezes disputado nas tabernas pelos curiosos das notícias. Apercebia-me de leitores semianalfabetos que se gabavam da sua satisfatória cultura tendo como base a leitura dos periódicos. Faziam uso disso e gostavam de desafiar no conhecimento os jovens que possuíam já a chamada 4ª classe.

Para mim, o gosto pela leitura foi-me em boa parte incutido pelas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, que prestaram ao país um serviço cultural e formativo incomensurável. Nos fins-de-semana esperava pacientemente pelas carrinhas servidas de autores variados, onde pontificava Cruz Cerqueira, um cidadão culto, simpático e bem preparado para orientar os visitantes no tipo de obras aconselhadas à sua faixa etária.

Julgo que grande parte dos cidadãos, pouco ou muito, leem e tem curiosidade pelo conhecimento, que também pode advir de outras formas, especialmente através dos meios audiovisuais. E nesta leitura que ao longo do tempo vamos fazendo há sempre algo, especialmente livros, que nos marcam e ficam como referência. No meu caso, há escritores dos quais me tornei leitor assíduo. José Saramago, por exemplo, é um deles. Li quase tudo o que escreveu e um dos seus livros que mais me marcou até nem foi o universal “Memorial do Convento”, mas sim o “Levantado do Chão”, a sua primeira obra de referência.

Neste romance, Saramago dá vida à luta do povo alentejano contra aqueles que o oprimiam: os latifundiários e as forças da ordem que os protegiam, com a complacência envergonhada da igreja. Uma luta sacrificada, mas obstinada, enquadrada num ambiente de miséria rural. No texto de contracapa do livro escreveu Saramago: “Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: Isto é o Alentejo”. Nada mais evidente, José.

N.A. No último “Notas Curtas”, logo na abertura, a data de 1960 deveria ser 1990. As minhas desculpas e obrigado aos leitores que me fizeram o alerta.

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