Margaridas brancas

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Reparto sempre com eles as flores do meu aniversário. Foram muitas as que recebi, uns ramos mais singelos outros mais elaborados, quase todas flores brancas, um ramo colorido dos meus netos, algumas cor-de-rosa à mistura com o azul arroxeado dos cardos. Entre elas havia um ramo de margaridas, de malmequeres brancos de que minha mãe tanto gostava. As margaridas e as camélias brancas eram as suas eleitas. Este ramo foi-me oferecido por uma amiga que minha mãe sempre estimara e acarinhara. Pelas duas razões foi o ramo que escolhi este ano para lhes levar ao lugar onde repousam. 

Pousei-o na pedra de mármore branco entre os dois retratos, e deixei voar o pensamento pelos céus da saudade e da lembrança. Tentei assim, na vaga luz do espaço, dar asas à memória para os ver sorrir, ouvir a voz do amor na doçura infinita dos seus rostos. Cerrei os olhos com força para afugentar o esquecimento e tentei voltar ao colo da minha infância onde só havia lugar para a vida. Mas a realidade inexorável do passado cortou-me a ilusão, e pela mão dos tempos trouxe-me à inexorável realidade presente da velhice. Serenamente, deixei a existência poisar na brancura eterna das margaridas, agradeci-lhes a vida que deram ao meu caminho, disse-lhes adeus, e dei comigo a abrir os olhos para o vazio do infinito. 

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