“Migalhas da Cananeia”

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Nunabre

Crente (à minha maneira e “com altar dentro de mim”, como dizia o genial Vítor Hugo), continuo pensando, lendo, escutando, observando, comparando, aceitando, rejeitando, buscando sempre mais luz, emanada sobretudo do Alto… Esta Luz – chamada Ele – ainda não se extinguiu em mim e, diariamente, peço (não sei se sou ouvido) mas minhas tão humildes quanto sincérrimas preces, que ela se torne menos embaciada, mais rutilante na minha tão nevoeirenta cegueira, quer dos olhos quer do Espírito…!

Talvez por isso, e não só, já muito pouco assíduo em igrejas ou capelas, vou passando meus anos outonais, também ameaçados pelo perigo pandémico, quase escondido no meu pequeno “templo”, onde desabafo com o meu Criador Celeste, mesmo temendo não ser ouvido…!

Já ouvindo deficientemente dos meus tímpanos, por vezes, e ao domingo, pelas oito horas e ainda no legítimo repouso, ligo a Antena 1 da Rádio Lisboa. Faço-o mais para ouvir as leituras catequéticas e a homilia do celebrante, que não conheço mas que me parece inteligente, bem falante e ponderado…! Claro que, no fim, as minhas dúvidas não se desfazem…!

No terceiro domingo de Agosto, o Evangelho era de São Mateus e apresentava-nos o episódio da “Cananeia” (Mt 15, 21-28). Dizia o Evangelista, em resumo, que uma pobre mãe – “Cananeia” – pedira a Cristo que lhe curasse uma filha enferma; os Apóstolos, já cansados de tanta gritaria, insistiam com o Rabi para que a curasse; Jesus divagara dizendo não ser lícito dar aos cães o pão dos filhos; a Cananeia retorquiu lembrando que até os cachorrinhos domésticos aproveitam, pelo menos, as migalhas caídas da mês dos seus donos; Jesus, então, louvando a fé e a persistência da pobre mãe, curou-lhe a filha…

Abstendo-me de acreditar cegamente ou negar radicalmente que tal narração bíblica atribuída a S. Mateus traduza um acontecimento inegável e histórico (minha fé não chega a tanto), quero apenas aproveitar o episódio para dele extrair alguns ensinamentos práticos:

Nada de Racismos discricionários; nada de Nacionalismos anestesiadores do sentimento da Compaixão; nada de Olhares de soslaio para quem é diferente; nada de Maniqueismos exagerados; nada de “quem não é por mim, é contra mim; nada de Meios-irmãos entre os Seres Humanos; nada de Atentados contra o Humanismo ou os Direitos do Homem…!

A Cananeia disse, por outras palavras, que: A Humanidade é uma Família cujo pai é Deus Criador e os filhos (mesmo pródigos) devem viver em sã Fraternidade!  Nao haja fome no Mundo, que ]e tao rico…! Migalhas da Cananeia tamb]em sao pao nutritivo para quem pensar e sentir…!

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