“Muito se fala, mas pouco se sabe ouvir”

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Natacha Cabral

Caros leitores, de muita coisa que anda em falta neste mundo meio atribulado, faz muita falta saber ouvir.

Já não sei se é um mundo atribulado ou atrofiado. É atribulado devido ao ritmo frenético, sem dúvida, mas mais atrofiado porque sinto que aos poucos vamos perdendo as capacidades básicas que nos assistem enquanto seres inteligentes e sensíveis.

Fala-se muita coisa por aí. Muita besteira. Muito egoísmo. Muito fanatismo. Muita falta de senso e moralidade. Mas a questão é, porque não somos nós capazes de ouvir mais? Ouvir os outros sim, mas com maior urgência, ouvir aquilo que sai das nossas próprias bocas.

Estamos prontamente e diariamente dispostos a um bom julgamento, mas raramente estamos dispostos a uma reunião sincera para ouvir o que forma o outro lado.

Quando digo ouvir, não digo sentar e despachar uma solução. Digo ouvir com todo o corpo. Olhar a pessoa, sentir-lhe os incómodos, entender-lhe os arranhões, escutar-lhe as hesitações e, por fim, sim, oferecer-lhe a compreensão e, consequentemente, opções.

Creio que vivemos muito à custa de imagens. Imagens que uma maquinaria social instigou em nós. Desde que nascemos até ao momento em que partimos, absorvemos imagens no dia a dia sobre tudo e mais alguma coisa: eu sou muito baixo, muito pobre, ela é muito elegante, ele é um fracasso, os americanos são uns colonialistas, os chineses uns extremistas, os africanos uns incompetentes, os judeus menos intitulados, e por aí em diante… tudo imagens criadas pela nossa mente. Apenas e só, quando conseguirmos ver para além da mente, conseguiremos ter relações sinceras com os outros, porque é nesse momento em que as imagens caem e a capa das pretensões se despe, ficando apenas visível o cru. E, convenhamos, o mundo baseia-se em relações, mas nesse afazer estamos cada vez mais distantes e analfabetos.

Já dizia na obra do Príncipezinho “que aquilo que é essencial é invisível aos olhos”, daí que tenhamos que mudar a forma de compreender o mundo ao nosso redor se ambicionamos chegar a bom porto.

Sou fã do silêncio num mundo onde o ruído extremo é gratuito. Quando não sei, calo. Quando quero saber, procuro ouvir. É uma perda de tempo e energia gastar a nossa vida com palavras e ações desnecessárias e tantas vezes, inadequadas. Assim, talvez devêssemos honrar melhor este nosso órgão que nos confere um poder brutal: o poder de poder mudar a vida de alguém bem ao nosso lado.

Desejo, pois, para este ano de 2023, que sejamos capazes e suficientemente corajosos para melhor ouvir.

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