Na Festa de S. Paulo da Cruz um amigo partiu, o P. Fernando

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Comemorava-se a data festiva do fundador dos Passionistas, S. Paulo da Cruz, como indica o calendário religioso no dia 19 de outubro de cada ano. Assim sendo, as festividades programadas entre os dias 19 e 22, na quinta-feira do dia 19, houve liturgia, mais festiva, em honra do Santo, na Comunidade Passionista de Barroselas. Porém, no final da manhã do dia seguinte, dia 20, falecera, no Seminário de Passionistas de Barroselas, o Padre Fernando Cardoso Ferreira, cujo funeral se veio a realizar na segunda-feira imediata, dia 23 outubro. 

O P. Fernando nasceu a 8 de agosto de 1942, em Abobeleira, freguesia de Vale de Anta, do concelho de Chaves. Queria ser Passionista!  A 5 de outubro de 1953, veio até Barroselas ao encontro da “Família Passionista”! Aqui chegado, o hábito, a capa, o emblema, o enorme terço, o solidéu e o barrete de três bicos surpreendem-no. Julgou-se um verdadeiro estranho e sentiu-se só! Sem derramar lágrimas, chorou! No outro dia foi jogar à bola com os novos colegas. Um pontapé certeiro e eis um golo de belo efeito! Euforia total! Felicitando-o, saltaram à sua volta. Jamais ficou só! 

Entrou no noviciado de Barreiro em setembro de 1958 e professou a 29 de setembro de 1959, em Barroselas. Continuou os estudos, agora em Itália, na região de Téramo, como estudante de Teologia, onde fez a sua profissão perpétua em 8 de agosto de 1963. Em 1965, aproveitando a estada por terras italianas, em Roma, estudou música sacra no Instituto Pontifício de Santa Cecília. Por fim, a 26 de fevereiro do ano seguinte, no “Santuário de Gabriel dell’Addolorata”, Isola del Gran Sasso – Itália, recebeu das mãos de Monsenhor Battistelli, Bispo de Téramo, a ordenação sacerdotal. Licenciou-se em Português e Francês na Universidade do Porto e, em 1975, tornou-se Bacharel em Línguas Românicas. Em 1983, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de Lisboa. Finalmente, em 2011, na Universidade Católica, Braga, tornou-se “Mestre” em Filosofia da Religião. Ao mesmo tempo que exercia atividade intelectual, foi várias vezes “Superior”, e, nomeadamente, professor e formador de inúmeros alunos.

Entretanto, noutro curriculum mais consentâneo com a sua vocação sacerdotal, foi Pároco em Palhais, Santo António da Charneca, Coina e Penalva – Barreiro, e ainda cuidador pastoral em Aguiar – Barcelos. O P. Fernando era um religioso alegre, extremamente educado, trabalhador, que pôde ser admirado como salutar modelo de “vida comunitária”. Aqui, apetece-me testemunhar algo que dele admirava: reconhecida a sua alta habilitação era um homem simples e, desta, recordo a simplicidade exposta na oração que me ensinara, como rogo à inspiração, e que debitava antes de cada aula. Era assim: “Senhor, iluminai a minha inteligência e o meu coração, para melhor Vos servir e amar”. Em suma, ele fora a representação “teatral” que nos ajudou a olhar o mundo com ternura e a compreender o nosso “ser” como parte de um tecido vivo. 

Agora, no seu curriculum laboral, o P. Fernando iniciou as funções docentes em 01/10/1967, como professor no Ciclo Preparatório/TV, e no Colégio Passionista em Barroselas. Posteriormente, lecionou no Liceu Nacional de Viana do Castelo, na Escola Secundária do Barreiro e na Escola Secundária de Linda-a-Velha. No Agrupamento de Escolas de Barroselas, iniciou funções em 1 de setembro de 1993, onde lecionou Português e Latim. Desempenhou ainda a função de Delegado do Grupo de Português, sendo uma figura muito acarinhada e recordada pelos seus colegas como profissional muito atento, com grande capacidade de diálogo. 

Aposentou-se em 22 de fevereiro de 2008. É uma obrigação agradecer todo o seu empenho e dedicação profissional, personificado na pessoa de trato afável e ecuménico, sempre revelando uma elevada cortesia para com todos.

Noutra vertente, foi escritor de várias obras de pensamento e poesia! Promoveu uns quantos poetas, publicando entre 1991 e 1997 uma série de antologias, abrigando batismos literários da grande maioria desses novos autores. Naturalmente, a valia intelectual do P. Fernando não se resumiu à promoção da poesia, mas a comunicar, ora no jornal que ajudara a fundar com o P. João Bezerra, o “Alegria e Juventude”, ora em traduções, ora em revisão de textos e, maioritariamente, compilando livros saídos do seu intelecto, complementando ou refutando ideais da contemporaneidade.

Foi presidente do Grupo “S. Paulo”, agora “S. Paulo da Cruz” e, nesse prisma mais cultural e desportivo, foi até jogador de futebol do Grupo S. Paulo! Fora um médio de excelência! … Foi o primeiro acordeonista do Rancho Folclórico S. Paulo e o grande mentor do Grupo “Alfa”, um grupo de animação musical formado por estudantes Passionistas. Foi ainda coordenador do Grupo Coral que animava as celebrações dominicais. 

A sua personalidade estava repleta de humanidade! O P. Fernando viveu à frente do próprio tempo, procurando deixar algo para o próximo, que fosse bom, que fosse útil!…  Como seu aluno, aqui fica o meu testemunho de gratidão. Obrigado P. Fernando!

Mota Leite

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