Na Igreja Matriz

Author picture

Aproximamo-nos discretamente. Ao longe, apercebemo-nos que dois pares de namorados olhavam de cima a baixo a Igreja da Matriz e dela falavam com curiosidade. Já próximos, ouvíamos Constantino, de bloco de notas na mão a dar informações sobre a Sé Catedral. Apercebendo-se da nossa presença, um pouco ao estilo do avô Joaquim, fez-se perceber melhor aumentando a voz.

– Segundo Figueiredo da Guerra, Lusa nº 17, 15/11/1917, “os edifícios de Viana não vão além do século XV, não admirando que a Foz do Lima não possua edificações medievais anteriores, visto ser uma vila burguesa de pescadores e mecânicos. Assegurada a coroa na cabeça do Mestre de Aviz, as empresas marítimas ocuparam os mareantes vianeses, e logo dentro das estreitas muralhas, na praça de armas, se empenharam eles em erguer a Igreja Grande, para servir de paróquia, visto a antiga ficar fora da cêrca, na matriz velha ou Almas da igreja velha, em cujo adro as cheias do Rio Lima inundavam as sepulturas abertas na rocha”.

Já no grupo, apresentando desculpas pelo atraso em relação à hora estabelecida, perguntamos pelo Senhor Joaquim. – Não o tratem por Senhor porque ele não gosta. Sabem, é muito vosso amigo. – Nós também gostamos muito dele e apreciamos muito a sua sabedoria, respondemos. Constantino, depois das apresentações dos acompanhantes, informou-nos, então da saúde do avô. Apercebendo-se da nossa curiosidade e preocupação, foi logo dizendo que brevemente teríamos homem. – Na próxima semana já podem contar com ele. Ninguém se prepara para estes encontros como o avô Joaquim. Ontem estivemos a pesquisar na biblioteca dele alguma informação sobre este monumento grandioso. Pode dizer-se que perdemos boa parte da noite, mas o melhor que conseguimos foram estes pequenos apontamentos. 

– Hoje, são vocês que orientam a visita e respondem às nossas perguntas, nós não nos sentimos em condições, diz Constantino. Bom se assim o desejam, mesmo sem consulta feita, algo se pode dizer. – Terá que ser breve, porque ficam já convidados para tomar um aperitivo no Girassol, adianta Matias, o colega do grupo. Sim, sim, respondemos. E, sabem, também se trata de um café com alguma história. – Mas para história, hoje, basta-nos saber mais pormenores sobre este esplendoroso monumento, disse Constantino.

Bom, segundo Francisco Carneiro Fernandes escreveu nos “Tesouros de Viana”, edição do GDCTENVC, 1999, a edificação da Matriz aconteceu por volta de 1400, ao tempo de D. João I, após a conclusão das muralhas fernandinas, devido, tal como diz Figueiredo da Guerra, que há pouco citavam, à não inclusão da Igreja de São Salvador (Matriz Velha) no circuito amuralhado. – Pois, mas não nos podemos perder aqui com grandes pormenores históricos, caso contrário não podemos observar a riqueza do interior do templo, diz Matias.

Anuímos, mas não podíamos deixar de chamar a atenção do grupo para o pórtico da entrada da Igreja, onde está representado o orago de S. Salvador acompanhado de anjos, e a cruz gótica bem no topo da frontaria. Já no interior, foi tempo para observar a nave central e a sua capela-mor, muito danificada pelos incêndios de 1656 e 1806, de retábulo sóbrio, neoclássico, com a imagem da padroeira N.ª S.ª da Assunção. Depois, sempre atentos, à pouca vontade que os nossos acompanhantes tinham em saber grandes pormenores do que iam vendo, caminhamos até à Sacristia principal, com a sua talha em estilo Barroco e teto de caixotões de policromia de grande riqueza. 

A pressa é sempre inimiga do conhecimento e da cultura em geral. Concluímos que escasseava o tempo. E o programado, para lhe dar cumprimento, obrigava a uma caminhada no sentido da rua. Ainda houve tempo para passar pela Capela Manuelina dos Melo e Alvim, onde observamos ao pormenor o painel quinhentista, com representação da Virgem do Rosário e São João Batista. “Conjunto soberbo”, ainda lhes ouvimos dizer. Já na rua, agradecemos o convite para o digestivo no Girassol. Ficou combinado para a próxima semana, talvez com a presença de Joaquim Terroso. Este sim, dá garantias de diálogos intensos. Deixemos os jovens namorar. Haverão de ter tempo para melhorar conhecimentos.  

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.