Sim, não achei graça nenhuma à imagem típica de Cristina Ferreira trajada à vianesa. Para lá de detalhes como se o lenço se dobra para a frente ou para trás, se o ouro é quadrado quando devia ser redondo, descentrado ou simétrico, há ali uma postura urbana a visitar o tradicional que me irrita. Como com os trajes ditos populares das marchas dos santos ditos populares, uma aproximação do citadino ao dito popular que vejo como leviana, desrespeitosa e não consentida.
Este meu incómodo com o falar do povo não se limita a estas coisas ligeiras de gosto duvidoso. Há poesia, alguma mesmo de enorme qualidade literária, que quando entra em panegíricos idílicos de serras, searas, roupas de linho e devaneios de romarias, me provocam um pouco o mesmo efeito. Desculpem lá, não me batam.
Por simples e rude que possa parecer o mundo rural e respetiva cultura tradicional, não deverá ser traduzido como um simpático postal ilustrado engraçado, nem pintado como uma macedónia de coisas basicamente castiças, nem sublimado em sinfonia de perfumes bucólicos. Ele comporta coisas pouco engraçadas, outras chocantes e os odores não são todos agradáveis. Lidar com a rudeza é tarefa bastante delicada
Agora, aproveito, e não me batam, a todos os que se indignaram com a tal dita figura, olhem por favor, com esses mesmos olhos, para outras coisas que por aí se vêem, a saber, por exemplo, trajes masculinos e música.
(Imagem: “Olhar Viana do Castelo”)