Não será a Arte uma arte mal-entendida?

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Natacha Cabral

Sexta-feira, dia 4 de fevereiro de 2022, um dia tão comum como qualquer outro, acabou por se tornar num dia a recordar.

Eu acredito que nenhum evento acontece na nossa vida por acaso. Ainda que relutante, à primeira, acabei por aceitar um convite para marcar presença na inauguração de uma exposição de pintura da artista Ana Cunha, alguém que eu não conhecia.

Na minha total ignorância, entrei a medo. Não sabia o que pensar nem tão pouco o que esperar; logo, optei por não pensar nem esperar nada, a não ser limitar-me a vivenciar. 

Há coisas que não se podem explicar. O momento presente pede-nos apenas para experienciar, sentindo e prestando atenção. Por isso, em cada quadro que via, cada sensação ímpar. A parte gira é que me esforçava para procurar uma interpretação pessoal, contudo, descobri que há camadas de profundidade escritas na tela que nos são vedadas a conhecer. É algo que pertence somente ao artista. 

Não obstante a minha inocência e liberdade para criar cenários na cabeça, a curiosidade levou-me a querer saber um pouco mais, daí não conter o impulso de a questionar sobre o porquê de certos detalhes. Nesse preciso momento, nesses 5 minutos de conversa, criou-se um outro tipo de arte: a arte da interação humana. Ah, meus caros, é por isso que adoro Arte.

Bastaram poucos minutos para ouvir sobre uma história de vida única, sobre um ser tão igual a mim que se apresentava à minha frente e, naquelas paredes, desnudadamente. 

Sim, pode ser preciso talento para ser artista, e nem todos nascemos com essa veia, mas acima de tudo é preciso sal. E esse sal chama-se muitas vezes coragem.

Talvez esta seja a falácia dos artistas. Talvez os compreendam mal. Talvez o povo se esqueça que também eles são alguém. Alguém como você, alguém como eu. Alguém com histórias, com pontos e vírgulas pelo caminho, como todos nós. Alguém que encontra na Arte um meio de expressão, uma forma de transcrever por gestos aquilo que não consegue por palavras. Para muitos, um grito de ajuda. Para outros, um grito de alerta. 

Seja como for, jamais me esquecerei das palavras que fizeram parte do discurso da artista aos presentes: “Em todos estes quadros, há um pedaço de mim”. 

Tudo isto fez-me pensar se não será, pois, a arte um meio de propagandear o amor? De enxaguar a alma? Ou, por outras palavras, não seremos todos nós artistas na tela da vida de um modo ou de outro?

NR.: Esta exposição da Artista Ana Cunha está patente na sede da Ordem dos Médicos em Viana, Rua da Bandeira, 472, de 04/Fevereiro a 22/Abril/2022. Pode ser visitada às terças e quintas-feiras, das 17h30 às 19h30 e aos sábados das 9h00 às 13h00.

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