No centenário do elevador

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No passado dia 2 de junho cumpriu-se o centenário da entrada em funcionamento do “Elevador de Santa Luzia”. Ao longo do tempo muitas foram as fórmulas de exploração comercial, sendo certo que, nos últimos quinze anos, o Município de Viana do Castelo, e assim todos os munícipes, têm sido o grande financiador da operação desta importante referência dos transportes coletivos em Portugal. 

Viana é uma cidade portuária com a especial característica de numa área relativamente pequena poder contar com o mar, o estuário, a cidade propriamente dita, o rio e a montanha. Esta simplificação, como todos os que amam Viana sabem, não consegue descrever a magia paisagística que aqui acontece. Toda a descrição ficará sempre aquém duma potencial experimentação dos cenários, sempre diferentes, que a conjugação articulada dos fatores enunciados proporcionam. Ao longo dos últimos trinta anos muitas foram as apostas dos diferentes executivos municipais que procuraram valorizar Viana, parecendo-nos a nós que a relação da cidade, da Meadela à Areosa, com o Monte de Santa Luzia, tem sido o parente pobre desses investimentos. 

Na década de oitenta e noventa, para minha felicidade, calcorreei todas as vertentes da montanha, quase sempre sozinho. Quando o Estádio Manuela Machado estava a ser projetado, tive a oportunidade de poder algumas vezes conversar com o seu autor, o arquiteto Henrique Carvalho, e expor-lhe o meu conhecimento daquela encosta e o meu entendimento sobre aquela zona do estádio dever ser a “porta desportiva” para a Serra de Santa Luzia, sobretudo nas modalidades ciclísticas, hípicas e de corrida.

Há cerca de quinze anos, aquando da iniciativa digital “Vianenses em Portugal e no Mundo” do Miguel Afonso dos Santos, pude refletir sobre esta articulação entre a cidade e Santa Luzia, pensando numa extensão do agora centenário elevador à zona central da cidade. Para celebrar esta efeméride, entendi agora partilhar essa proposta que passo a explicar. Desde há muito que alguns vianenses pensam poder a demolição do Quartel dos Bombeiros Voluntários, e da moradia que com ele confina a Nascente, constituir-se como um contributo positivo para o enriquecimento urbanístico da cidade, se a essa demolição corresponder a criação de uma praça, possibilitadora da leitura arquitetónica que o conjunto da Congregação de Nossa Senhora da Caridade e do Teatro Municipal de Sá de Miranda merece e que não tem. Sabemos ser também intenção do Município edificar uma ampliação dos Paços do Concelho nesta zona, tendo em tempos sido constituída uma comissão para analisar a relocalização do quartel, mudança que é desejada pela corporação, atendendo à menor eficiência das instalações.

A nossa proposta é a de que uma operação desta envergadura, física e financeira, seja complementada, e se quiserem, também justificada, por um ganho estratégico para a cidade: a conversão do Monte de Santa Luzia na janela namoradeira da casa que é a cidade e não apenas no mirante da quinta, por sinal, aberto ao público que não visita a casa da quinta. Ou seja, a Estância de Santa Luzia pode ser uma parte integrada no centro da cidade e não apenas um local de visita esporádica por parte dos vianenses, ou de visita exclusiva, sem experimentarem a parte central da cidade, por parte dos milhares de forasteiros que visitam apenas Santa Luzia.

Mais investimento será necessário se quisermos somar a esta nova praça a extensão do elevador. Muito dinheiro. Para alterar altimetricamente o traçado do elevador a partir de sensivelmente o seu terço mais baixo, para concretizar o túnel de 180 metros necessário à passagem sob a estrutura viária e ferroviária, para rever o ponto de cruzamento das carruagens, para construir a nova estação na referida praça, junto do Teatro Municipal, para ponderar a eventual deslocalização da atual estação inferior para o remate superior do percurso. Muito dinheiro.

No entanto, na minha opinião, organizar esta intervenção na cidade a contar que no momento em que o elevador necessitar de novo investimento, se lançava a empreitada da sua extensão, seria a forma de elogiarmos a visão daqueles que conceberam e sucessivamente engrandeceram a Estância no seu todo e o Elevador de Santa Luzia em particular. Verdadeiramente, esta estratégia de trazer Santa Luzia para o centro e vice-versa, é o gesto que se exige hoje àqueles que detêm o poder de valorizar Santa Luzia e a cidade. 

Por Amor a Viana.

Luís Paulo Sousa

(*) Arquiteto

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