Nomadland – Sobreviver na América

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Alcino Pereira

Considero este galardoado filme de 2020 uma opção aconselhada de cinema porque, de modo latente, incentiva as pessoas mais velhas, apesar de tudo o que passaram, a prosseguirem ativamente a sua vida, fazendo algo útil, arranjando outros motivos de interesse ou, então, a optar por uma ação sem paralelo, em conformidade com o ditado “enquanto há vida há esperança”. 

É precisamente nestes termos que a história se desenvolve, tendo como pano de fundo a personagem, Fem, uma viúva de 60 anos, que depois da morte do seu marido se vê sem trabalho, devido ao encerramento da empresa de materiais de construção na região de Empire, no Nevada, como consequência da crise do Subprime, que assolou de forma devastadora os Estados Unidos em 2008.   

Sozinha, sem familiares por perto e com um valor estipulado para a reforma que é claramente exíguo, Fem, perante esse panorama sombrio, toma uma decisão inédita e arrojada, optando por viver como nómada na sua adaptável carrinha, viajando sem destino, numa espécie de cliché aventureiro, à procura de trabalho, estacionando o seu veículo onde calha. 

Nesse cenário imprevisível, Fem traz consigo a necessidade de conhecer pessoas novas, de mudar o paradigma, consubstanciando otimismo e perseverança a este novo desafio, depois de muitos anos de dedicação inabalável ao amor da sua vida e às lides da sua terra.  

Achando trabalho temporário num centro de distribuição da Amazon, em Red Rock, Fem, apesar de notar que as suas tarefas são duras e exigem um ritmo acelerado, ainda assim ela demonstra satisfação e empenho, pois é notório o início de um novo ciclo. 

Ao estabelecer contacto com outra nómada, chamada Linda, esta recomenda-lhe alinhar com um movimento inspirado em Bob Wells, um homem considerado uma figura de culto para os nómadas, que por sinal acode muita gente aflita, principalmente aqueles que enveredam por esse estilo de vida.   

Aceitando o repto de Linda, Fem desloca-se até ao Arizona, até à cidade de Quartzsite, para aderir e desfrutar desse evento anual, que junta nómadas vindos de todos os lados.

Ao chegar ao local, Fem, inebriada, depara-se com a envergadura e a dimensão do encontro, ouvindo compenetrada a prédica mobilizadora de Bob Wells, que reitera o formato de vida simples, a autossuficiência e o voluntarismo, como atributo ético dos nómadas. Além da série de animações que compõem o programa do evento, existe um momento alto na cerimónia, designadamente quando os participantes relatam com grande emoção as peripécias da sua vida, antes de se fixarem como nómadas, deixando Fem encantada e simultaneamente comovida.    

Ficando Fem a viver nas imediações do parque onde decorreu a festa, esta, juntamente com Linda, pensam de igual forma, com Fem a sentir-se realizada, por invocar e praticar o ethos nómada. Ao mesmo tempo, aproveita para usufruir da espontaneidade transcendental da natureza, contemplando com deleite as diversas paisagens que as rodeiam, evidenciando um bem-estar reconfortante.      

Porém, Fem, ao conhecer outro nómada viúvo, julga haver entre ambos alguma afeição. Mas será que vale a pena a esta encetar uma nova relação, após ter alcançado uma liberdade redentora e uma felicidade purificadora?    

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