O Caminho

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Alcino Pereira

Este filme, com o título original de “The Way”, de 2010, assenta numa história que realça uma tocante semântica duma peregrinação, focando-se especialmente sobre as vicissitudes dum peregrino solitário que, por força das circunstâncias, envereda numa aventura providencial, procurando com isso um feito redentor e purificador.     

À luz desse desafio, este filme é um exemplo ilustrativo, usando para esse fim uma relação atribulada entre pai e filho e a consequente morte trágica deste último, que leva o progenitor a fazer uma caminhada a Santiago de Compostela, para se redimir espiritualmente, homenageando, em todos os obstáculos que ultrapassa, a figura do seu ente querido.  Tendo como pano de fundo esse dilema familiar, a história carreia-nos até ao insólito falecimento de Daniel, o pai, vítima duma abrupta tempestade, quando atravessava os Pirenéus, em direção à majestosa Catedral de Santiago de Compostela. Viajando o seu pai, Thomas, de emergência para a pequena localidade francesa para prestar luto à morte do seu único filho. Além de chocado com a morte deste, Thomas sente-se siderado quando o capitão Henri enaltece o valor sentimental e transcendental da propalada peregrinação que Daniel ousava experimentar. 

Perante essa conjuntura, Thomas não vislumbra outra alternativa senão abarcar nessa peregrinação. Aproveitando a Mochila de Daniel, parte na companhia deste, acomodado numa singela caixa que retêm os seus restos mortais, com o objetivo de espalhar essas cinzas em sítios chave ou de culto. Durante o desenrolar do enredo denotamos, à partida, as múltiplas paisagens de fascínio que se perfilam no decurso da trajetória, confirmando a espetacularidade deste percurso, perspetivando-se como um ótimo vaticínio, tanto para as personagens, como para os espectadores. 

No meu entendimento, um dos aspetos salutares deste projeto é quando Thomas se depara com outros peregrinos, que por interesses diversos, almejam que as veleidades desse caminho, lhes traga algo de positivo para o futuro. Essas evidências demonstram-se logo de princípio, com Thomas a travar conhecimento com o singular holandês Joost, que apesar de sublinhar o seu estilo extrovertido, avança para a peregrinação com o intuito de reduzir acentuadamente a sua obesidade. Quase de seguida, sucede-se a bela quarentona Canadiana, Sarah, uma mulher simpática e independente, que se junta aos dois neste fascinante objetivo, para alijar-se das amarras do seu marido. Por fim, a personagem mais controversa que se agrupa ao lote, é o lírico escritor irlandês, Jack, um homem dado a devaneios e atos histriónicos, deixando o rabugento Thomas de candeias às avessas.  Não obstante a relutância de Thomas em assumir essa empreitada, junto com os três, a verdade é que, a partir de certo momento, a união que se compadece entre ambos, permite-lhes tornear os vários percalços, sendo crucial para percecionarem o enorme desígnio que esta peregrinação contempla e interioriza nos fiéis.

Contudo, sobretudo para Thomas, esta caminhada significou uma viragem na sua forma de pensar e agir, apreendendo, com o seu malogrado filho, que se deve usufruir da vida com intensidade, pois sempre existem coisas novas ou pertinentes que não logramos  alcançar, porque a rotina oculta-nos uma outra realidade.  

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