A pele porosa do silêncio, agora que a noite sangra nos pulsos, traz-me o teu rumor de chuva branca. A Primavera anda a treinar por aí, o cheiro violento no ar e o nó de sombra das palavras.
O silêncio torrencial e a reverência dos mastros, nos barcos da marina. Todas as coisas têm o seu mistério e, de todos os mistérios, um dos maiores é o da Poesia.
Agora são os dias, os meses, os anos, depois de todos terem partido! O tempo anda solto pelas ruas e pelos dias, descalço, chapinhando ao sol, como uma onda que rola na praia e desfalece no areal.
Oscilo como ramo vertical diante das brisas e das rajadas do meu fado. O silêncio é, agora, um mar sem ondas!
Como era quente e dourado o areal da nossa infância, bronzeando todo o meu corpo! Eu voltava para casa, para o fresco granítico do pátio, trazendo no rosto as faces camoesas, como duas maçãs maduras ao sol. Os perdedores deixam que a vida aconteça; os vencedores fazem que a vida aconteça!
Temos que aprender a plantar a nossa própria árvore, para não precisar ficar à sombra da árvore de ninguém.