No próximo domingo faz 28 anos que, inesperadamente, fui “obrigado” pelos meus concidadãos a mudar o rumo da minha vida. Sem outras considerações, recordo o registo que dele fiz num dos meus livros (O meu desencontro com a partidocracia – 1, páginas 33-36, editado pela Chiado Books): “ … o objetivo inicial (e expectativa final!) da nossa candidatura limitava-se a ter uma votação suficiente para retirar a maioria absoluta ao dominante partido laranja e, embora depois de conhecido o resultado das eleições aparecessem muitos “analistas sabichões” a dizer que já previam a nossa vitória, é necessário reafirmar claramente que, antes da noite do domingo eleitoral, nem eu, nem ninguém dos que me rodearam durante toda a campanha, nem os próprios órgãos locais e nacionais de comunicação social admitiram alguma vez uma votação que ultrapassasse a dos social democratas, que tinham vencido todas as cinco eleições anteriores para a autarquia vianense.
Por isso, fiquei absolutamente perplexo quando, estando a desfrutar do tranquilo ambiente familiar a meio da tarde do domingo das eleições (12 de dezembro de 1993), recebi o telefonema de um jornalista da RTP que “apenas” pretendia ouvir a minha primeira reação à vitória pré-anunciada pelas sondagens à boca das urnas, realizadas por aquela estação televisiva.
E as primeiras palavras que consegui proferir, foram ainda mais surpreendentes, especialmente para a minha Mulher que estava ao meu lado e ainda hoje as recorda “Coitado do Branco Morais!”, expressando o meu espontâneo e sincero pesar pelo súbito desmoronamento do projeto (de vida) do anterior presidente.
Adversário ocasional com quem eu mantinha relações amigáveis há mais de uma década e que, apesar dos seus defeitos e dos graves erros cometidos na gestão da autarquia, se tinha preparado durante muitos anos para o exercício do cargo, que tinha desempenhado com inesgotável entusiasmo e inegável dedicação, embora com atitudes bastante reprováveis e abusos de poder absolutamente inaceitáveis em democracia, que eu me propunha moderar como futuro membro da vereação, como com a maior cordialidade já lhe tinha anunciado, quando lhe comuniquei que tinha aceitado ser candidato pelo Partido Socialista.
Infelizmente, o nosso cordial relacionamento teve uma azeda interrupção que só fomos retomando vários anos depois!
Mesmo as disputas judiciais que travamos no início do meu mandato, com queixas de difamação de ambos os lados, a propósito das dívidas da autarquia e das acusações mútuas, não deixaram feridas irreparáveis entre nós.
É bem maior e mais duradoiro, o verdadeiro ódio que continuo a ler nos olhos de alguns dos seus apoiantes, que vou encontrando nas minhas deambulações pelas ruas da cidade que ambos habitamos…
Mas, além de inesperada, a nossa vitória eleitoral teve a emoção de uma renhida finalíssima de futebol, com um dramático prolongamento e desempate “nos penaltis”, uma vez que o êxito que tinha sido tão precocemente anunciado pela RTP foi repetidas vezes desmentido pela SIC depois do encerramento das urnas, mantendo-se a dúvida durante mais de duas longuíssimas horas, enquanto se faziam as contagens nas assembleias de voto das freguesias e o balanço global era vagarosamente contabilizado pela incrédula equipa laranja do Governo Civil.
E quando a barafunda já reinava na sede da nossa candidatura e numerosas centenas de ansiosos candidatos e ruidosos apoiantes enchiam a rua da Picota, chegou a correr esbaforido o eufórico “estafeta” Luís Belo a anunciar o fim da contagem dos votos no Governo Civil e a nossa inesperada vitória!
É uma imagem do meu bom amigo que nunca mais esquecerei…
Foi uma vitória bem escassa (por apenas 255 votos de vantagem sobre a lista laranja, dos 47.913 votos que entraram nas urnas) e um triunfo exclusivo da nossa candidatura à Câmara Municipal, uma vez que a lista de candidatos socialistas à Assembleia Municipal liderada pelo “mais velho militante” do partido foi claramente derrotada pela lista do PSD e das candidaturas apresentadas pelo PS às Assembleias de Freguesia apenas três saíram vitoriosas nas quarenta freguesias do município.
Resultados vitoriosos, tão inesperados e com vantagem tão escassa, que logo fizeram os mais atentos e habituados àquelas lides eleitorais nas autarquias prever um futuro sombrio para a minha equipa de inexperientes políticos, que teria pela frente um primeiro mandato autárquico com minoria no executivo camarário (com apenas 4 eleitos em 9 membros da vereação) e uma minoria absolutíssima na Assembleia Municipal, com um grupo parlamentar socialista constituído por 18 eleitos (15 deputados municipais mais 3 Presidentes de Junta) num total de 81 membros do plenário daquele órgão deliberativo.”
Afinal acabei por ficar na presidência da autarquia durante quatro mandatos!
Defensor Moura