O estrangulamento da “Classe Média”, em Portugal

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Pimenta Castro

Vivemos (e, infelizmente, viveremos cada vez ainda mais…) tempos difíceis. Para além da pandemia do Covid-19, temos o aumento constante e brutal dos combustíveis, de volta os incêndios em Portugal e, sobretudo, as consequências da horrível guerra da Ucrânia, que está (e estará) a afectar o mundo todo. 

Tudo isto está a levar, cada vez mais, ao aumento do custo de vida e, consequentemente, à perda crescente do poder de compra da grande maioria da população portuguesa. Segundo os economistas, o pior ainda estará para vir, na medida em que os salários não acompanham o crescente e imparável aumento dos preços. Para além disso, vemos o descontentamento dos médicos (sobretudo dos médicos de família); o fechar, sobretudo durante os fins de semana, das urgências da obstetrícia, a crise no Serviço Nacional de Saúde e, como fui professor, não posso deixar de falar na crescente falta de professores. A falta de professores deve-se, entre outros, a vários fatores: ao degradamento constante do estatuto da carreira docente; à constante instabilidade dos locais de trabalho e, sobretudo, aos péssimos ordenados, entre muitas outras causas. 

Isto é uma verdade indesmentível, por isso há cada vez menos jovens candidatos às Faculdades que formam professores.

Perante isto, o que é que se tem feito? Quase nada. Bem sei que se fala de aumentos salariais para os mais carenciados, que eu concordo plenamente mas, e para a chamada “classe média”? Nada. Não nos devemos esquecer que é a classe média que faz mais compras, aluga (ou compra) casa; que vai ao restaurante e comércio; que movimenta o dinheiro do seu parco salário…. É a classe média que movimenta o turismo (tanto no interior como nas diversas praias do litoral), que é obrigada a gastar, cada vez mais, dinheiro para meter combustível no carro para se deslocar até ao trabalho. No interior, não podemos apanhar o metro, nem os autocarros, que nos levem a tempo e horas ao local onde trabalhamos todos os dias. 

Adivinham-se tempos difíceis para a classe média em Portugal. Os governantes não se devem esquecer que um país sem uma forte e alargada classe média é um país pobre e sem futuro. Reparemos nos chamados países desenvolvidos da Europa e do resto do mundo, que têm uma fortíssima classe média. Os muito ricos, geralmente, não têm cá o seu dinheiro e passam fabulosas férias no estrangeiro, e os mais pobres, coitados, não o podem fazer dado a exiguidade do dinheiro disponível. A “coluna vertebral” de uma boa e saudável economia é a dita “classe média”, que está em Portugal a ser cada vez mais “estrangulada”.  Os políticos devem dar a devida importância a esta questão.

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