Estamos próximos da altura do ano na qual decorre a que por muitos é considerada “A Festa da Família”. Eu acho muito bonito, desde criança. E gosto muito. Mas é também uma altura em que várias pessoas começam a pensar em ir buscar os familiares mais velhos para duas noites de verniz; plástico e sorrisos amarelos, num frete que nada mais é que uma tentativa de contraste relativamente a onze meses de internato num asilo.

Convenhamos que ir-se regularmente buscar sacos com roupa suja a casa dos Pais e ir-se fazer limpeza às suas divisões é menos confortável que a colocação dos progenitores noutro local. São cómodos e são quentinhos, os diversos pretextos usados por estas pessoas que inclusivamente se afirmam de “pessoas de bem”. Os mesmos senhores costumam ser grandes adeptos dos jantares de empresa, carregados de interesse numérico (com gravata ou laço), umas amigas, uns contratos e umas fotografias para partilhar exaustivamente e assim aumentar o “status quo”.

Umas reflexões pseudo filosóficas, com “reis na barriga”, costumam ficar também bem na moldura. E são algo mais acessível que auxiliar as idas da Mãe e do Pai ao médico, dar-lhes a medicação, preparar-lhes as refeições ou dar-lhes o banho. Sendo que por aí se incluem frequentemente aqueles que depois entram com chanatas e calção-de-banho em velórios, quando não se esquecem de lá ir.

Sobretudo aos sobrantes, que acham bonito procurar-se cumprir com os deveres pessoais e particulares (sejam estes ateus; agnósticos ou religiosos), eu desejo umas festas natalícias com tudo quanto mereçam, na companhia (física ou já metafísica) dos que pela família heroicamente se sacrificaram, perdendo noites, dedos e mãos.

Muita paz e muita saúde nesta quadra. E o mesmo para o novo ano.